O problema de escrever conclusões - já no âmbito da metalinguagem - é perder as perdições.
Lembro-me vagamente de estar presa entre paredes rachadas e oscilantes, sem passagem para a luz e o vento. (O vento dá vida às coisas que dançam na força de seu impulso. Ensina-me a fragilidade de minha pele quando o frio se faz sentir. Mostra que nada é estático, nem mesmo o aparente inanimado. O vento é amigo da importância).
Eu estava hermeticamente isolada do espaço e do tempo, as horas já não eram do mundo. Acordava no susto da destruição diária: as paredes iam cair e esmagar minha existência. Meu corpo inteiro era de pálpebra. Minhas costas estavam prensadas contra a cama, que flutuava no espaço, girando.
Meus dedos precisaram ir aos olhos para que as lágrimas percebessem que estavam lá. O vinho é como o medo; eu bebo para senti-lo em mim. Entorpeço-me para sentir o canto da sala como meu espaço de direito. As palavras repetidas formam uma neblina de sentido. Sinto formigas nas costas; elas descem por minha garganta e emudeço na certeza da falta de compreensão. A angústia da defesa à fragilidade é algo que carrego como sujeira em unha de pé.
Quando as paredes quebraram, corri sem poder impedir minhas pernas. Transpus grandes animais mortos, mal cheirosos, que me lançavam na cara o tamanho da mágoa. Meus dedos queimaram no fogo da pólvora, mas eu não conseguia parar de ouvi-los. Queimei no que já era um incêndio. As árvores pareciam-me como um olhar para cima: via o céu. Mas eram a sombra (sobra) no chão. Eram apenas a luz do céu.
Aquela menina que caminhava para longe era de tal serenidade que quase me fez acreditar na possibilidade da sensação. A sensação é puro juízo de gosto. É demasiado meu, quando na prática. Sentir é menos que eu.
As paredes, hoje, impedem que as correntezas se encontrem em união - impedem o manter-se unido. Mas são, ao mesmo tempo, aquilo que segura o exército de águas subterrâneas e o faz perceber que está numa guerra. Todo exército forte precisa de paredes, mas toda parede precisa de portas para que a água possa correr.
Meus dedos precisaram ir aos olhos para que as lágrimas percebessem que estavam lá. O vinho é como o medo; eu bebo para senti-lo em mim. Entorpeço-me para sentir o canto da sala como meu espaço de direito. As palavras repetidas formam uma neblina de sentido. Sinto formigas nas costas; elas descem por minha garganta e emudeço na certeza da falta de compreensão. A angústia da defesa à fragilidade é algo que carrego como sujeira em unha de pé.
Quando as paredes quebraram, corri sem poder impedir minhas pernas. Transpus grandes animais mortos, mal cheirosos, que me lançavam na cara o tamanho da mágoa. Meus dedos queimaram no fogo da pólvora, mas eu não conseguia parar de ouvi-los. Queimei no que já era um incêndio. As árvores pareciam-me como um olhar para cima: via o céu. Mas eram a sombra (sobra) no chão. Eram apenas a luz do céu.
Aquela menina que caminhava para longe era de tal serenidade que quase me fez acreditar na possibilidade da sensação. A sensação é puro juízo de gosto. É demasiado meu, quando na prática. Sentir é menos que eu.
As paredes, hoje, impedem que as correntezas se encontrem em união - impedem o manter-se unido. Mas são, ao mesmo tempo, aquilo que segura o exército de águas subterrâneas e o faz perceber que está numa guerra. Todo exército forte precisa de paredes, mas toda parede precisa de portas para que a água possa correr.