Doze horas após se pôr, o Sol torna a nascer, clareando uma noite interminável de infindada insônia. O despertador toca aquela música que, embora antes soasse agradável e inspiradora, agora é um incômodo - anuncia a hora de despertar para uma nova repetição da mesma rotina.
Sente seu corpo cansado e dolorido espalhado pela cama, desejando não ter que sair dali. Com os olhos contorcidos, desfocados, silencia a música e pega um impulso para erguer-se, fazendo um movimento brusco. Vai ao banheiro, realiza todas as atividades roboticamente. Veste-se de qualquer jeito, com as roupas habituais, calça o mesmo tênis de sempre. Come rápido, sem prazer, quase que não utilizando o paladar. Passa maquiagem como se fosse uma máscara que pudesse esconder a realidade de sua expressão sonolenta. E claro, perfume, para que possa agradar aos narizes dos outros mesmo estando completamente desagradável.
Liga música, as mesmas de costume, tão repetidas que já não surdem mais o efeito esperado. Caminha com a cabeça baixa, sem olhar o céu, sem escutar o canto dos pássaros e sem observar os possíveis tucanos que eventualmente aparecem a essa hora da manhã. Chega ao destino, desliga a música, entra no recinto. Não presenteia ninguém com bom dias, beijos ou abraços, apenas um "oi" ligeiro. O sino bate, o dever chama. Entra, acomoda-se numa dura e desconfortável cadeira e olha para frente. A voz do que fala lhe soa vazia, ecoa em seu cérebro. A tontura de uma noite mal dormida é inevitável, acontece, não lhe permitindo raciocinar como deveria.
O tempo vai passando, vai agüentando como pode, enganando a si mesma e respondendo com quaisquer palavras ao exercício proposto, mesmo sabendo que não deveria. A moleza e a preguiça de um novo dia apoderam-se dela rapidamente, sua atenção volta-se para frases aleatórias, piadas sem graça que mesmo assim lhe arrancam risadas não espontâneas. Seu pensamento volta-se constantemente para aquele no qual não deveria pensar, para aquele pelo qual trava uma luta interna com sua alma e cérebro tentando deletá-lo de si.
Chega o fim. O calor a faz transpirar e soltar alguns ruídos de reclamação. A caminhada é curta, mas mesmo assim parece interminável. Abre o portão pensando no ventilador que a espera dentro de casa. Entra, joga tudo que carrega consigo em cima do sofá. Engole o alimento como se sua vida dependesse da rapidez com a qual termina de almoçar. Liga o aparelho que lhe permite se socializar e conversa com alguns poucos, sentindo sua neurose atacar. Seu corpo lhe implora por descanso, então larga-se sobre a cama tal qual largou suas coisas sobre o sofá.
Planeja acordar logo, ser produtiva, trabalhar, mas era como se seu leito a fizesse prisioneira. Obriga-se, acorda, lava o rosto, sente a pressão abafada e seca do dia pesar sobre sua cabeça. As palavras lidas são digeridas com esforço, mas são. Logo a tarde acaba e ela vai lavar de si toda a repugnância daquelas horas, a morbidez. Liga novamente a tela branca do computador e passa em frente a esta o restante de sua noite, saindo apenas para engolir alimento novamente. Entediada, tenta sentir-se bem e querida, mas não, o ócio é quem manda. Levanta-se, olha-se no espelho, vê uma imagem feia e contorcida, uma imagem indesejada.
Cansa-se de tudo imutável, das pessoas complicadas e egoístas. Do dia que passou, do dia que virá, sabe que serão exatamente iguais. Desliga, escova os dentes, liga o aparelho de som e põe o habitual disco arranhado para tocar. Apaga a luz e espera pela insônia que inevitavelmente virá pegá-la, para que amanhã tudo se repita.
Deixa que a vida passe por ela, mas não consegue fazer-se passar pela vida. Sabe o que precisa fazer, tem tudo de si um pouco de todas as coisas mais bonitas do mundo, mas não as expõe, não as utiliza, não as consume, deixa-as encostadas, feridas, desnorteadas e esquecidas numa parte não importante de si. Sua vontade é suficiente, mas não é nem um pouco cômoda.
Sente seu corpo cansado e dolorido espalhado pela cama, desejando não ter que sair dali. Com os olhos contorcidos, desfocados, silencia a música e pega um impulso para erguer-se, fazendo um movimento brusco. Vai ao banheiro, realiza todas as atividades roboticamente. Veste-se de qualquer jeito, com as roupas habituais, calça o mesmo tênis de sempre. Come rápido, sem prazer, quase que não utilizando o paladar. Passa maquiagem como se fosse uma máscara que pudesse esconder a realidade de sua expressão sonolenta. E claro, perfume, para que possa agradar aos narizes dos outros mesmo estando completamente desagradável.
Liga música, as mesmas de costume, tão repetidas que já não surdem mais o efeito esperado. Caminha com a cabeça baixa, sem olhar o céu, sem escutar o canto dos pássaros e sem observar os possíveis tucanos que eventualmente aparecem a essa hora da manhã. Chega ao destino, desliga a música, entra no recinto. Não presenteia ninguém com bom dias, beijos ou abraços, apenas um "oi" ligeiro. O sino bate, o dever chama. Entra, acomoda-se numa dura e desconfortável cadeira e olha para frente. A voz do que fala lhe soa vazia, ecoa em seu cérebro. A tontura de uma noite mal dormida é inevitável, acontece, não lhe permitindo raciocinar como deveria.
O tempo vai passando, vai agüentando como pode, enganando a si mesma e respondendo com quaisquer palavras ao exercício proposto, mesmo sabendo que não deveria. A moleza e a preguiça de um novo dia apoderam-se dela rapidamente, sua atenção volta-se para frases aleatórias, piadas sem graça que mesmo assim lhe arrancam risadas não espontâneas. Seu pensamento volta-se constantemente para aquele no qual não deveria pensar, para aquele pelo qual trava uma luta interna com sua alma e cérebro tentando deletá-lo de si.
Chega o fim. O calor a faz transpirar e soltar alguns ruídos de reclamação. A caminhada é curta, mas mesmo assim parece interminável. Abre o portão pensando no ventilador que a espera dentro de casa. Entra, joga tudo que carrega consigo em cima do sofá. Engole o alimento como se sua vida dependesse da rapidez com a qual termina de almoçar. Liga o aparelho que lhe permite se socializar e conversa com alguns poucos, sentindo sua neurose atacar. Seu corpo lhe implora por descanso, então larga-se sobre a cama tal qual largou suas coisas sobre o sofá.
Planeja acordar logo, ser produtiva, trabalhar, mas era como se seu leito a fizesse prisioneira. Obriga-se, acorda, lava o rosto, sente a pressão abafada e seca do dia pesar sobre sua cabeça. As palavras lidas são digeridas com esforço, mas são. Logo a tarde acaba e ela vai lavar de si toda a repugnância daquelas horas, a morbidez. Liga novamente a tela branca do computador e passa em frente a esta o restante de sua noite, saindo apenas para engolir alimento novamente. Entediada, tenta sentir-se bem e querida, mas não, o ócio é quem manda. Levanta-se, olha-se no espelho, vê uma imagem feia e contorcida, uma imagem indesejada.
Cansa-se de tudo imutável, das pessoas complicadas e egoístas. Do dia que passou, do dia que virá, sabe que serão exatamente iguais. Desliga, escova os dentes, liga o aparelho de som e põe o habitual disco arranhado para tocar. Apaga a luz e espera pela insônia que inevitavelmente virá pegá-la, para que amanhã tudo se repita.
Deixa que a vida passe por ela, mas não consegue fazer-se passar pela vida. Sabe o que precisa fazer, tem tudo de si um pouco de todas as coisas mais bonitas do mundo, mas não as expõe, não as utiliza, não as consume, deixa-as encostadas, feridas, desnorteadas e esquecidas numa parte não importante de si. Sua vontade é suficiente, mas não é nem um pouco cômoda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário