Há tempos procuro por palavras sinceras debaixo das minhas inúmeras xícaras de café. Prefiro transfigurar minha covardia num menininho que não consegue dormir. O tic-tac da bomba prestes a explodir o mantém acordado, preso a sua inconveniente consciência. Vê as cores de sua parede parda virando ao contrário e dançando uma valsa colombiana magistrada por um piano desconhecido que parece tocar sozinho através de sua porta. Resolve sentar-se ao chão para ouvir pelas frestas. Arrepios que lhe percorrem a alma escondem suas certezas infantis. Tenta ignorar as vozes que estão sufocando o som do passado.
Estou em casa conversando com uma ausência importante e cozinhando sentimentos afogados pelo prazer do cérebro trabalhando. Assim que tomei em mãos meu caderno vermelho, um som misturou-se à música costumeira. Apaguei-a e juntei-me à porta, quando tomei a decisão de me purificar pela honestidade. O piano, vivo, comia minha alma, degustando-a. Um grupo de vozes sinistramente serenas e palmas descompassadas iniciou um ritual que libertava meu espírito de suas atuais verdades universais. Incompletência. Vazia de sentido, cheia de significado.
A cerimônia continuou. Algo no desconhecimento das palavras pronunciadas me causava incômodo, como que por desafio ao ofício. Por outro lado, era como um mantra que quase neutralizava meus nãos e hipnotizava meus sentidos no balanço da cortina rosa. A necessidade de sentir-me concreta era, agora, maior que a necessidade de sentir meu corpo limpo. A confiança na branquidão me garante a presença intocável dos animais. É a única que me cabe, pois não caibo na humanidade.
Não pretendo matar meus pseudônimos sem nome.
Um comentário:
Não os mate. Usufrua-os.
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