Fim de tarde, eu dormia. Sonhava, naturalmente. Estava seguro com meus costumeiros espectros animais. Parei de sonhar, conscientizei-me de que dormia. Acordei, ao que parecia. Tentei abrir meus olhos e eles não me responderam. Por frestas embaçadas, vi que me encontrava em minha cama, deitado. Tentei virar para os lados, não pude me mover. Meus olhos não abriam. O ar pesava sobre meu corpo, comprimindo-o, impedindo-o. Estava paralisado. Meu cérebro não entendeu, tentava persuadir meu organismo, que conscientemente relutava. Minha entidade física era uma louca numa camisa de força. Alguém segurava meus braços e minhas pernas. Não ouvia o vento bater. Concentrei todas as minhas forças mentais no exercício do mover-me, tenho certeza que teria suado, se pudesse. Teria gritado se conseguisse. Minha garganta estava travada. A eternidade percorreu todo o tempo em que passei desprendendo-me do invisível. Arregalei os olhos, quando pude, e levantei-me num pulo, caindo no chão de atordoamento. Desde então, tive medo de voltar e dormir e acordar só com a metade de mim.
quinta-feira, 7 de abril de 2011
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5 comentários:
Gatinha, eu adorei a ideia. Acho que tem que ficar mais sufocante, como se o leitor estivesse paralisado, aí, por exemplo, na frase: O ar pesava sobre meu corpo, comprimindo-o, impedindo-o de executar qualquer tipo de movimento.
acho que poderia parar no impedindo-o. assim você torna mais compacto, mais direto e penoso, que acha?
concordo, eu gosto de cortar as frases pela metade pra transfigurá-las em imagens. as pessoas reclamam da minha falta de concretismo... mas acho que eu não ligo TANTO assim pra isso.
tem que ser bem cortado para provocar a sensação mais precisa, pense no Borges, ele nunca diz mais do que é preciso para que se veja uma parte da imagem e ganhesse um todo muito mais exemplar (:
Falta de concretismo? E quem foi que disse que os textos têm que ser concretos? A literatura é uma arte... e como tal, ela deve ser livre de quaisquer dogmas.
Esse texto, em particular, assim como a maioria dos seus, é pesado. Sufoquei junto com o personagem.
Já leu João Gilberto Noll?
OI Francis!Vou descrever a sensação que me causa seu texto, infelizmente adormeci e esqueci completamente do seu blog, não foi por mal...Minhas sinceras desculpas. Bem sinto um martelo batendo longe, longe, bem ritmado, mesmo assim gerando a sensação de desconforto que acaba com um grito de desabafo, parando com o barulho.Como a sua amiga Juliana comentou:" A literatura é uma arte" , e você é uma artista, crítica é critica, e concretismo é relativo, assim como qualquer perspectiva.Francis é isso.Até mais
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