Antes era sempre a cabeça que se cansava das outras partes do corpo. Como todos sabemos - um peixinho me contou - a cabeça e o corpo são duas coisas completamente diferentes, dois organismos distintos que apenas se conectam por um gancho ou qualquer outro objeto apropriado para ligar instâncias. Isso depende, claro, da cabeça e do corpo dos quais tratamos. No caso dos meus, o que os prende é um fio de nylon. (Não há nada de realmente poético num fio de nylon). Minha cabeça nunca suportou bem as decisões absurdas do resto do meu corpo. As discussões eram de uma impraticidade irritante. Alguma coisa aconteceu, no entanto, que mudou o fluxo natural das coisas.
Meu corpo está absolutamente farto da minha cabeça. Está considerando com certa seriedade a possibilidade da separação definitiva. A cabeça está sufocante, pesada, tratando de toda a identidade dentro de si, e impedindo que dois sejam dois. Não existe diálogo. O corpo tenta mostrar-se insatisfeito, mas a cabeça torna mental qualquer tipo de manifesto sensitivo proposto pelo corpo. O corpo adoraria gritar. A cabeça mentaliza toda a situação dos dois, lidando com ela de forma ultra-racional, quase doentia. Um colapso está para acontecer.
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