Era sábado. Para Cris, sábado foi o dia escolhido por Deus para fazer feira. Comprar legumes, verduras, frutas, e coisinhas saudáveis a mais. Tendo isso explicado, deduz-se onde estava Cris: sim, na Frutaria.
Caminhava por entre as sessões variadas da loja e vez em quando catava alguma coisa nas prateleiras e jogava pra dentro da cesta. Chegando ao departamento que nomeava o local, foi escolher primeiro as verduras e os legumes. As verduras e legumes nunca o faziam sofrer, a decisão era sempre fácil, nada muito complexo. Uma cenoura, uma cebola, um pepino.
Andou mais um pouco e alcançou a sessão mais adiante, onde estavam as tão requisitadas frutas. Essa era a parte detestável da coisa. Cris amava frutas, vê. Mas era um rapaz com um nível elevado de indecisão. Amava-as tanto que demorava séculos para escolher qual delas queria levar. Hoje, sabia que optaria por algo mais comum. Suas frutas costumeiras eram exóticas, normalmente pêssegos, jamelões, carambolas. Mas essas frutas diferentes levavam-no a pensar sobre mil e uma coisas, e isso não era bom, porque pensar é sempre ruim, feio. Portanto, hoje Cris queria uma laranja, ou talvez uma maçã, sem nada de especial, nada a ser analisado, nada que o faria ligar o botãozinho do seu cérebro.
Raquítico, anêmico, o moçoilo fadigou até as maçãs. Parou frente a elas. Representavam para ele coisas diversas. Vermelho era uma cor multi-uso. Primeiro: o vermelho que os seres humanos veêm, provavelmente não é o mesmo que os cachorros veêm. A concepção que os humanos têm de vermelho conceitua coisas que fazem parte do seu mundo conhecido, seja ele interno ou externo. Para os mais românticos, que enxergam em tudo e em todos uma pitada daquele sentimento mágico, vermelho representa o amor. Amor esse que falta dentro de muitos, os quais são preenchidos por um sentimento oposto e costumam fazer derramar um líquido vermelho que circula pelos seres vivos, tirando-lhes algo insubstituível ou presenteando-lhes com cicatrizes físicas e psicológicas. As maçãs são quase redondas, lembram um pouco o mundo. Um mundo vermelho e mágico, infestado por pequenas sementes dentro de si, dentro do seu sistema, nenhuma delas igual, mas todas muito semelhantes. Sementes que apodrecem dentro da maçã, provocando o apodrecimento de todo o resto. Cris nunca havia visto uma macieira na vida. Isso sempre o levou a pensar que talvez elas não existissem, fossem um mito, uma lenda. Mas se não existem, então de onde vem as maçãs? Essa pergunta não é feita por muitos. Não, a maioria não liga de onde a maçã vem, apenas dá-lhe uma mordida. Cris mordia a maçã, amava o gosto da maçã, mas queria saber o que é uma macieira, onde está essa macieira, se as maçãs realmente vêm de uma destas, ou se nascem do chão e a macieira é só uma história de ninar que alimenta essas "respostas" que muitos procuram. E fica por isso mesmo.
O rapaz deu uma sacudidela na cabeça. Seus pensamentos comiam seu cérebro, gritavam. Resolveu mudar de fruta, procurou pelas laranjas. Elas eram laranjas, e não vermelhas, o problema não iria se repetir.
Encontrou-as, organizadas (lê-se jogadas) numa prateleira. A população de laranjas era enorme, a prateleira mal podia sustentá-las, era como se fossem hermafroditas, se auto-fecundassem, ou realizassem divisão meiótica instantânea. Estavam superlotando a prateleira, era claro que logo esta iria despencar. Laranjas lembram o Sol, redondo, com cores quentes. O Sol é luz morta, mesmo parecendo incansavelmente vivo. Pertence ao misterioso e infinito universo, que fascina. Universo cheio de outras luzes mortas, outros trilhões de galáxias e zilhões de planetas, onde certamente deve haver outra espécie maior do que os humanos. A humanidade é um simples piscar de olhos, insignificante, mesmo que não insignificante pra esse mundo. Tem a capacidade de descascar uma laranja, tirar dela toda sua superfície, devastá-la, apenas para explorar seu gosto, comê-la. Destrói toda a beleza natural da laranja para desfruto próprio. A casca, quando fora desta, forma um espiral, que por sua vez lembra mudança, buraco, seja este negro ou branco. Se negro, um redemoinho que suga e joga pra dentro do planeta. Se branco, uma mola que impulsiona e joga para o espaço. Ou vice-versa. Laranja parece uma bola de basquete, Cris não gostava de basquete. Não fazia sentido para ele. Pessoas correndo atrás de uma bola para jogá-la numa cesta, brigando por ela, morrendo por ela. Uma bola maciça, cara, que proporcionava aparente poder àquele que a possuía. E poder, do ponto de vista humano, é tudo.
Cris fechou os olhos. Sua cabeça latejava. Não! Por quê? Toda vez! Frutas não são mais curiosas do que qualquer outra coisa que as cercam, por que justo elas levavam o moço a pensar como se não houvesse amanhã? Pergunta sem resposta. Abriu os olhos, virou-se, deparou-se com algumas pinhas e instantaneamente colocou-as na cesta, mesmo sem saber se as queria ou não.
Caminhava por entre as sessões variadas da loja e vez em quando catava alguma coisa nas prateleiras e jogava pra dentro da cesta. Chegando ao departamento que nomeava o local, foi escolher primeiro as verduras e os legumes. As verduras e legumes nunca o faziam sofrer, a decisão era sempre fácil, nada muito complexo. Uma cenoura, uma cebola, um pepino.
Andou mais um pouco e alcançou a sessão mais adiante, onde estavam as tão requisitadas frutas. Essa era a parte detestável da coisa. Cris amava frutas, vê. Mas era um rapaz com um nível elevado de indecisão. Amava-as tanto que demorava séculos para escolher qual delas queria levar. Hoje, sabia que optaria por algo mais comum. Suas frutas costumeiras eram exóticas, normalmente pêssegos, jamelões, carambolas. Mas essas frutas diferentes levavam-no a pensar sobre mil e uma coisas, e isso não era bom, porque pensar é sempre ruim, feio. Portanto, hoje Cris queria uma laranja, ou talvez uma maçã, sem nada de especial, nada a ser analisado, nada que o faria ligar o botãozinho do seu cérebro.
Raquítico, anêmico, o moçoilo fadigou até as maçãs. Parou frente a elas. Representavam para ele coisas diversas. Vermelho era uma cor multi-uso. Primeiro: o vermelho que os seres humanos veêm, provavelmente não é o mesmo que os cachorros veêm. A concepção que os humanos têm de vermelho conceitua coisas que fazem parte do seu mundo conhecido, seja ele interno ou externo. Para os mais românticos, que enxergam em tudo e em todos uma pitada daquele sentimento mágico, vermelho representa o amor. Amor esse que falta dentro de muitos, os quais são preenchidos por um sentimento oposto e costumam fazer derramar um líquido vermelho que circula pelos seres vivos, tirando-lhes algo insubstituível ou presenteando-lhes com cicatrizes físicas e psicológicas. As maçãs são quase redondas, lembram um pouco o mundo. Um mundo vermelho e mágico, infestado por pequenas sementes dentro de si, dentro do seu sistema, nenhuma delas igual, mas todas muito semelhantes. Sementes que apodrecem dentro da maçã, provocando o apodrecimento de todo o resto. Cris nunca havia visto uma macieira na vida. Isso sempre o levou a pensar que talvez elas não existissem, fossem um mito, uma lenda. Mas se não existem, então de onde vem as maçãs? Essa pergunta não é feita por muitos. Não, a maioria não liga de onde a maçã vem, apenas dá-lhe uma mordida. Cris mordia a maçã, amava o gosto da maçã, mas queria saber o que é uma macieira, onde está essa macieira, se as maçãs realmente vêm de uma destas, ou se nascem do chão e a macieira é só uma história de ninar que alimenta essas "respostas" que muitos procuram. E fica por isso mesmo.
O rapaz deu uma sacudidela na cabeça. Seus pensamentos comiam seu cérebro, gritavam. Resolveu mudar de fruta, procurou pelas laranjas. Elas eram laranjas, e não vermelhas, o problema não iria se repetir.
Encontrou-as, organizadas (lê-se jogadas) numa prateleira. A população de laranjas era enorme, a prateleira mal podia sustentá-las, era como se fossem hermafroditas, se auto-fecundassem, ou realizassem divisão meiótica instantânea. Estavam superlotando a prateleira, era claro que logo esta iria despencar. Laranjas lembram o Sol, redondo, com cores quentes. O Sol é luz morta, mesmo parecendo incansavelmente vivo. Pertence ao misterioso e infinito universo, que fascina. Universo cheio de outras luzes mortas, outros trilhões de galáxias e zilhões de planetas, onde certamente deve haver outra espécie maior do que os humanos. A humanidade é um simples piscar de olhos, insignificante, mesmo que não insignificante pra esse mundo. Tem a capacidade de descascar uma laranja, tirar dela toda sua superfície, devastá-la, apenas para explorar seu gosto, comê-la. Destrói toda a beleza natural da laranja para desfruto próprio. A casca, quando fora desta, forma um espiral, que por sua vez lembra mudança, buraco, seja este negro ou branco. Se negro, um redemoinho que suga e joga pra dentro do planeta. Se branco, uma mola que impulsiona e joga para o espaço. Ou vice-versa. Laranja parece uma bola de basquete, Cris não gostava de basquete. Não fazia sentido para ele. Pessoas correndo atrás de uma bola para jogá-la numa cesta, brigando por ela, morrendo por ela. Uma bola maciça, cara, que proporcionava aparente poder àquele que a possuía. E poder, do ponto de vista humano, é tudo.
Cris fechou os olhos. Sua cabeça latejava. Não! Por quê? Toda vez! Frutas não são mais curiosas do que qualquer outra coisa que as cercam, por que justo elas levavam o moço a pensar como se não houvesse amanhã? Pergunta sem resposta. Abriu os olhos, virou-se, deparou-se com algumas pinhas e instantaneamente colocou-as na cesta, mesmo sem saber se as queria ou não.
Um comentário:
mas também há muito a pensar sobre pinhas :O haoiehauieaie amey mto esse texto.. *-*
ah, eu tb nunca vi macieiras \o
:**(L)
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