Vivia um velho barbudo no dorso do rio. Era apaixonado pela correnteza, e ela por ele de volta. Num dia de sol baixo e poeiras visíveis, o velho subiu numa pequena canoa de madeira e deixou-se guiar pelos olhos do movimento da água, que era também o seu. Conversava baixo com o som do fluir e chorava para dentro do rio. Chorava de sentir, e não apenas de nome. As árvores caminhavam ao lado deles, algumas acenavam de simpatia. O sol ia bocejando, com sono, procurando unir-se ao abrigo da terra. A água derramada aclamava as pedras que, lá embaixo, esperavam-na. O velho contentava-se em sorrir melancolicamente, como se carregasse consigo uma certeza.
Na cabeça da cachoeira, braços abertos, o vento acolheu a velhice do velho num balão colorido. A canoa caiu, quebrou e voltou para o fundo do rio. O velho voou para as nuvens, ainda dava tempo de beijar o sol de boa noite.
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