quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Absurdo

Já nem sei mais como sentir diferente. O preto está verde e o céu está branco. As nuvens estão planas e o plano é outro. O universo parece estar consumindo a terra, agora, só para enfeitar-se de roxo. Se tudo isso for água, então água é tudo que sou eu também. É difícil de acreditar que bebo, todos os dias antes de dormir, as nuvens do céu.

Um menino descalço acordou rodeado pelo conteúdo do copo que bebia. Estava numa quase representação do nada, mas, no fundo, sabia que aquilo era tudo exceto nada. Era a vida dele, de seus pais e irmãos. Era Fred, seu cachorro, e a namorada dele. O peito do pé do menino afundava nos algodões porque ele não aceitava sua textura original e pré-designada. Não aceitava que o branco fosse líquido e que o líquido flutuasse. Flutuou, então, o próprio garoto, que era tão líquido e azul quanto um pássaro ou um dia que amanhece. Ali, a quantidade excessiva de cargas positivas do mundo concreto não podia lhe atingir com seus corredores de plástico. O horizonte é que nunca ia sumir.

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