Alguns dias têm o Sol invisível. Alerta, constante, presente e vivo, porém desfigurado e deformado.
O homem calvo levantou-se a pensar "amanhã será um bom dia", e o amanhã não alcançou o hoje. Passando o pente pelos braços, viu no espelho o reflexo de uma luz. Olhou para cima, viu um inseto, só. Sozinho. E viu-se no pequeno ser, que simplesmente era pelo teto do banheiro.
"Existir não deveria dar tanto trabalho", lembrou-se de lembrar.
"Estar sendo, apenas". Parecia uma ótima idéia. É falta de respeito desaprender a arte da auto-suficiência.
"Onde estão meus cabelos?", questionou-se.
"Lá nos quinze anos...", esqueceu-se. Naqueles dias iluminados e quentes de sorrisos fáceis e gramas de tão verdes quase azuis.
"Agora minha cabeça reflete uma lâmpada de banheiro", inconformou-se.
"Ai, esses dias de aprendiz de violino...". Dói nos órgãos vizinhos.
O homem voltou-se para a grande e aberta janela de uma tentativa de sala de estar. Recordou-se daquela bola mágica que o velho tarólogo de olhos aquosos havia lhe dado. "É para refletir a luz do dia", intencionou o velho.
Um comentário:
Meus fios de cabelo todos castanhos também ficaram lá nos meus quinze anos.
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