Uma fresta na janela estava aberta. Por ela entrava o sol amarelo de um dia recém amanhecido, o ar gélido de uma cidade desacordada e os micróbios, bactérias e tudo aquilo que corrompe o ar que respiramos. Soraide estava deitada num sofá vermelho vinho, bastante velho e desbotado, que se encontrava na sala de estar. Ela havia ganhado o sofá em seu casamento, como presente da querida e amada sogra. O casamento não deu certo e o maldito levou de tudo mais precioso, exceto o sofá cor vinho de péssimo gosto. Por baixo de sua cabeça pendia um travesseiro branco e gordo, seguido por uma colcha amarela que lhe cobria até a ponta do nariz.
Soraide respirava profundamente, vagarosamente, fazendo seu abdômen dançar num ritmo compassado. Uma pelagem comprida e marrom escorria do topo de sua cabeça. Suas pálpebras cobriam a branquidão de olhos adormecidos. O restante do corpo todo estava imóvel, intocável, desligado. A mulher estava longe, em outro plano, num jamais conhecido por qualquer um em sã consciência. Quem a pilotava era agora a subconsciência, que deixava seus desejos e pensamentos ocultos expostos, através de metáforas muito bem boladas. Seu cérebro provocava, algumas vezes, movimentos inesperados em parte do corpo qualquer, como por exemplo o dedão do pé.
Alguma coisa a fez voltar, voltar para o mundo que conhecemos. Sua consciência adentrou em sua mente, como um velho maroto que entra em casa depois de longas férias no caribe. Num longo suspiro e gemido, moveu-se. Ergueu os braços, alongou-se, ainda de olhos fechados. Cada músculo foi esticado, quase provocando um estalo imaginário. Seu pescoço de fato estalou, assim como seus dedos, embora estes tenham sofrido provocação. Finalmente abriu os olhos e encarou o teto branco de seu apartamento. De imediato, começou a pensar, como se o fato de acordar virasse o botão on/off de sua consciência para o modo on. Pensar no que deveria fazer hoje, em como o dia seria cansativo, no cara que havia conhecido na noite passada.
Sentou-se no sofá, olhou para o lado direito e deparou-se consigo mesma. Defronte ao sofá encontrava-se um velho rack, que também tinha sido presente de casamento e que também tinha sido deixado pelo maldito ex-marido. Na porta do meio, cujo interior não nos importa no momento, estava um espelho. Espelho meio arranhado, meio sujo, mas que continuava com uma perfeita reflexão do objeto diante de si, que atualmente era Soraide.
Encarou seus próprios olhos e a imagem à sua frente. Percebeu, pela primeira vez na vida, como era estranha. Era bizarra. Aquelas duas bolotinhas brilhantes que tudo podiam ver e dois resquícios de pêlo por cima destas. Um buraco rosado com coisas cortantes e brancas por dentro. Uma forma esquisita modelada por cartilagem com duas fendas que sugavam ar. Duas partes que surgiam de um longo e vertical tronco e resultavam em artifícios com cinco outras partes, que por sua vez eram utilizadas como pegadores. O tronco dividido, que por fim terminava em formas achatadas que a punham de pé. Sem falar do interior. Sistemas, canos, líquidos, texturas, formatos. Tudo isso que punha algo incrível em funcionamento, um mecanismo puxando o outro, ordenados por uma central de comando bem no topo.
Era um ET, uma árvore, um robô, um projeto. Repentinamente, sentiu-se sensível. Ela, Soraide, era incrível.
Soraide respirava profundamente, vagarosamente, fazendo seu abdômen dançar num ritmo compassado. Uma pelagem comprida e marrom escorria do topo de sua cabeça. Suas pálpebras cobriam a branquidão de olhos adormecidos. O restante do corpo todo estava imóvel, intocável, desligado. A mulher estava longe, em outro plano, num jamais conhecido por qualquer um em sã consciência. Quem a pilotava era agora a subconsciência, que deixava seus desejos e pensamentos ocultos expostos, através de metáforas muito bem boladas. Seu cérebro provocava, algumas vezes, movimentos inesperados em parte do corpo qualquer, como por exemplo o dedão do pé.
Alguma coisa a fez voltar, voltar para o mundo que conhecemos. Sua consciência adentrou em sua mente, como um velho maroto que entra em casa depois de longas férias no caribe. Num longo suspiro e gemido, moveu-se. Ergueu os braços, alongou-se, ainda de olhos fechados. Cada músculo foi esticado, quase provocando um estalo imaginário. Seu pescoço de fato estalou, assim como seus dedos, embora estes tenham sofrido provocação. Finalmente abriu os olhos e encarou o teto branco de seu apartamento. De imediato, começou a pensar, como se o fato de acordar virasse o botão on/off de sua consciência para o modo on. Pensar no que deveria fazer hoje, em como o dia seria cansativo, no cara que havia conhecido na noite passada.
Sentou-se no sofá, olhou para o lado direito e deparou-se consigo mesma. Defronte ao sofá encontrava-se um velho rack, que também tinha sido presente de casamento e que também tinha sido deixado pelo maldito ex-marido. Na porta do meio, cujo interior não nos importa no momento, estava um espelho. Espelho meio arranhado, meio sujo, mas que continuava com uma perfeita reflexão do objeto diante de si, que atualmente era Soraide.
Encarou seus próprios olhos e a imagem à sua frente. Percebeu, pela primeira vez na vida, como era estranha. Era bizarra. Aquelas duas bolotinhas brilhantes que tudo podiam ver e dois resquícios de pêlo por cima destas. Um buraco rosado com coisas cortantes e brancas por dentro. Uma forma esquisita modelada por cartilagem com duas fendas que sugavam ar. Duas partes que surgiam de um longo e vertical tronco e resultavam em artifícios com cinco outras partes, que por sua vez eram utilizadas como pegadores. O tronco dividido, que por fim terminava em formas achatadas que a punham de pé. Sem falar do interior. Sistemas, canos, líquidos, texturas, formatos. Tudo isso que punha algo incrível em funcionamento, um mecanismo puxando o outro, ordenados por uma central de comando bem no topo.
Era um ET, uma árvore, um robô, um projeto. Repentinamente, sentiu-se sensível. Ela, Soraide, era incrível.