domingo, 21 de setembro de 2008

Comptine d'un autre ete: L'apres midi

I can’t see the sunshine.

Passam, sem reflexo, os dias
Nuvens em movimento
Imperceptível
Aparente estaticidade

Deitada, trancada
De costas, de frente
De um lado, do outro

Correndo, morrendo, dormindo
Sorrindo?
Cantando, mentindo
Cansando

Os dedos leves tocam
A pele
Inconscientes

Falta, metade vazio
Furado, quebrado
O relógio

Olhos revirando ao som
De qualquer coisa
Boca contraída ao som
De risadas infundadas

Palavras poucas
Gélidas
Sem braços estendidos

Pensamento lá longe (em você)
Ou não
Pensamento bem aqui
O deles não

Sol entrando pela
Janela do vidro
Quebrado, o vidro

Mãos apóiam
A cabeça vazia
Cheia
Metade vazia, metade cheia

Desejo
Incapacidade
Socorro. Fogo! (?)

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Metáfora para Frutas

Era sábado. Para Cris, sábado foi o dia escolhido por Deus para fazer feira. Comprar legumes, verduras, frutas, e coisinhas saudáveis a mais. Tendo isso explicado, deduz-se onde estava Cris: sim, na Frutaria.
Caminhava por entre as sessões variadas da loja e vez em quando catava alguma coisa nas prateleiras e jogava pra dentro da cesta. Chegando ao departamento que nomeava o local, foi escolher primeiro as verduras e os legumes. As verduras e legumes nunca o faziam sofrer, a decisão era sempre fácil, nada muito complexo. Uma cenoura, uma cebola, um pepino.
Andou mais um pouco e alcançou a sessão mais adiante, onde estavam as tão requisitadas frutas. Essa era a parte detestável da coisa. Cris amava frutas, vê. Mas era um rapaz com um nível elevado de indecisão. Amava-as tanto que demorava séculos para escolher qual delas queria levar. Hoje, sabia que optaria por algo mais comum. Suas frutas costumeiras eram exóticas, normalmente pêssegos, jamelões, carambolas. Mas essas frutas diferentes levavam-no a pensar sobre mil e uma coisas, e isso não era bom, porque pensar é sempre ruim, feio. Portanto, hoje Cris queria uma laranja, ou talvez uma maçã, sem nada de especial, nada a ser analisado, nada que o faria ligar o botãozinho do seu cérebro.
Raquítico, anêmico, o moçoilo fadigou até as maçãs. Parou frente a elas. Representavam para ele coisas diversas. Vermelho era uma cor multi-uso. Primeiro: o vermelho que os seres humanos veêm, provavelmente não é o mesmo que os cachorros veêm. A concepção que os humanos têm de vermelho conceitua coisas que fazem parte do seu mundo conhecido, seja ele interno ou externo. Para os mais românticos, que enxergam em tudo e em todos uma pitada daquele sentimento mágico, vermelho representa o amor. Amor esse que falta dentro de muitos, os quais são preenchidos por um sentimento oposto e costumam fazer derramar um líquido vermelho que circula pelos seres vivos, tirando-lhes algo insubstituível ou presenteando-lhes com cicatrizes físicas e psicológicas. As maçãs são quase redondas, lembram um pouco o mundo. Um mundo vermelho e mágico, infestado por pequenas sementes dentro de si, dentro do seu sistema, nenhuma delas igual, mas todas muito semelhantes. Sementes que apodrecem dentro da maçã, provocando o apodrecimento de todo o resto. Cris nunca havia visto uma macieira na vida. Isso sempre o levou a pensar que talvez elas não existissem, fossem um mito, uma lenda. Mas se não existem, então de onde vem as maçãs? Essa pergunta não é feita por muitos. Não, a maioria não liga de onde a maçã vem, apenas dá-lhe uma mordida. Cris mordia a maçã, amava o gosto da maçã, mas queria saber o que é uma macieira, onde está essa macieira, se as maçãs realmente vêm de uma destas, ou se nascem do chão e a macieira é só uma história de ninar que alimenta essas "respostas" que muitos procuram. E fica por isso mesmo.
O rapaz deu uma sacudidela na cabeça. Seus pensamentos comiam seu cérebro, gritavam. Resolveu mudar de fruta, procurou pelas laranjas. Elas eram laranjas, e não vermelhas, o problema não iria se repetir.
Encontrou-as, organizadas (lê-se jogadas) numa prateleira. A população de laranjas era enorme, a prateleira mal podia sustentá-las, era como se fossem hermafroditas, se auto-fecundassem, ou realizassem divisão meiótica instantânea. Estavam superlotando a prateleira, era claro que logo esta iria despencar. Laranjas lembram o Sol, redondo, com cores quentes. O Sol é luz morta, mesmo parecendo incansavelmente vivo. Pertence ao misterioso e infinito universo, que fascina. Universo cheio de outras luzes mortas, outros trilhões de galáxias e zilhões de planetas, onde certamente deve haver outra espécie maior do que os humanos. A humanidade é um simples piscar de olhos, insignificante, mesmo que não insignificante pra esse mundo. Tem a capacidade de descascar uma laranja, tirar dela toda sua superfície, devastá-la, apenas para explorar seu gosto, comê-la. Destrói toda a beleza natural da laranja para desfruto próprio. A casca, quando fora desta, forma um espiral, que por sua vez lembra mudança, buraco, seja este negro ou branco. Se negro, um redemoinho que suga e joga pra dentro do planeta. Se branco, uma mola que impulsiona e joga para o espaço. Ou vice-versa. Laranja parece uma bola de basquete, Cris não gostava de basquete. Não fazia sentido para ele. Pessoas correndo atrás de uma bola para jogá-la numa cesta, brigando por ela, morrendo por ela. Uma bola maciça, cara, que proporcionava aparente poder àquele que a possuía. E poder, do ponto de vista humano, é tudo.
Cris fechou os olhos. Sua cabeça latejava. Não! Por quê? Toda vez! Frutas não são mais curiosas do que qualquer outra coisa que as cercam, por que justo elas levavam o moço a pensar como se não houvesse amanhã? Pergunta sem resposta. Abriu os olhos, virou-se, deparou-se com algumas pinhas e instantaneamente colocou-as na cesta, mesmo sem saber se as queria ou não.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

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Cérebro. Pensamentos. Consciência. Sub-consciência. Id. Complexidade. Conceitos. Ser humano. Sociedade. Sistema. Hierarquia. Princípios. Hegemonia humana. Mecanismo. Idéias. Niilismo. Ciência. Filosofia. Psicologia. Sociologia. Astrologia. Ecologia. Pessoas. Globalização. Empirismo. Relações humanas. Origens. Fenômenos. Possibilidades. Explicações. Definições. Características. Adjetivos. Capacidade. Perguntas. Universo. Fenômenos. Corpo. Alma. Mundo. Natureza. Simplicidade. Vida. Amor. Espiritualidade. Cosmo. Sensações. Sentidos. Sentimentos. Puritanismo. Intensidade. Percepção. Mundo interno. Visões. Vontades. Sentidos. Subjetivismo. Sonhos. Fragmentações. Cores. Individualidade. Cinema. Música. Fotografia. Teatro. Desenho. Palavras. Línguas. Momentos. Comunicação. Expressão. Emoção. Carpe Diem.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Paralisação

Doze horas após se pôr, o Sol torna a nascer, clareando uma noite interminável de infindada insônia. O despertador toca aquela música que, embora antes soasse agradável e inspiradora, agora é um incômodo - anuncia a hora de despertar para uma nova repetição da mesma rotina.
Sente seu corpo cansado e dolorido espalhado pela cama, desejando não ter que sair dali. Com os olhos contorcidos, desfocados, silencia a música e pega um impulso para erguer-se, fazendo um movimento brusco. Vai ao banheiro, realiza todas as atividades roboticamente. Veste-se de qualquer jeito, com as roupas habituais, calça o mesmo tênis de sempre. Come rápido, sem prazer, quase que não utilizando o paladar. Passa maquiagem como se fosse uma máscara que pudesse esconder a realidade de sua expressão sonolenta. E claro, perfume, para que possa agradar aos narizes dos outros mesmo estando completamente desagradável.
Liga música, as mesmas de costume, tão repetidas que já não surdem mais o efeito esperado. Caminha com a cabeça baixa, sem olhar o céu, sem escutar o canto dos pássaros e sem observar os possíveis tucanos que eventualmente aparecem a essa hora da manhã. Chega ao destino, desliga a música, entra no recinto. Não presenteia ninguém com bom dias, beijos ou abraços, apenas um "oi" ligeiro. O sino bate, o dever chama. Entra, acomoda-se numa dura e desconfortável cadeira e olha para frente. A voz do que fala lhe soa vazia, ecoa em seu cérebro. A tontura de uma noite mal dormida é inevitável, acontece, não lhe permitindo raciocinar como deveria.
O tempo vai passando, vai agüentando como pode, enganando a si mesma e respondendo com quaisquer palavras ao exercício proposto, mesmo sabendo que não deveria. A moleza e a preguiça de um novo dia apoderam-se dela rapidamente, sua atenção volta-se para frases aleatórias, piadas sem graça que mesmo assim lhe arrancam risadas não espontâneas. Seu pensamento volta-se constantemente para aquele no qual não deveria pensar, para aquele pelo qual trava uma luta interna com sua alma e cérebro tentando deletá-lo de si.
Chega o fim. O calor a faz transpirar e soltar alguns ruídos de reclamação. A caminhada é curta, mas mesmo assim parece interminável. Abre o portão pensando no ventilador que a espera dentro de casa. Entra, joga tudo que carrega consigo em cima do sofá. Engole o alimento como se sua vida dependesse da rapidez com a qual termina de almoçar. Liga o aparelho que lhe permite se socializar e conversa com alguns poucos, sentindo sua neurose atacar. Seu corpo lhe implora por descanso, então larga-se sobre a cama tal qual largou suas coisas sobre o sofá.
Planeja acordar logo, ser produtiva, trabalhar, mas era como se seu leito a fizesse prisioneira. Obriga-se, acorda, lava o rosto, sente a pressão abafada e seca do dia pesar sobre sua cabeça. As palavras lidas são digeridas com esforço, mas são. Logo a tarde acaba e ela vai lavar de si toda a repugnância daquelas horas, a morbidez. Liga novamente a tela branca do computador e passa em frente a esta o restante de sua noite, saindo apenas para engolir alimento novamente. Entediada, tenta sentir-se bem e querida, mas não, o ócio é quem manda. Levanta-se, olha-se no espelho, vê uma imagem feia e contorcida, uma imagem indesejada.
Cansa-se de tudo imutável, das pessoas complicadas e egoístas. Do dia que passou, do dia que virá, sabe que serão exatamente iguais. Desliga, escova os dentes, liga o aparelho de som e põe o habitual disco arranhado para tocar. Apaga a luz e espera pela insônia que inevitavelmente virá pegá-la, para que amanhã tudo se repita.
Deixa que a vida passe por ela, mas não consegue fazer-se passar pela vida. Sabe o que precisa fazer, tem tudo de si um pouco de todas as coisas mais bonitas do mundo, mas não as expõe, não as utiliza, não as consume, deixa-as encostadas, feridas, desnorteadas e esquecidas numa parte não importante de si. Sua vontade é suficiente, mas não é nem um pouco cômoda.