segunda-feira, 23 de maio de 2011

There's so much beauty in the world

"Wake up, sleepy-head, we're having a picnic. I'm already dressed up, I have a basket and a towel. Get ready, I'm coming over!"

This is not about time. And it's not about me. It's about you. You're taking the world out of its senses. I'm falling through a small earthly whole.
People don't like to hear things like this. They are afraid of everything that's beautiful. They reject everything that's fragile. The possibility of fragility scares them.
But two things: You're not like other people. And I'm protected by transitoriness.

These words are directed to nobody (but you).

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Sou um menino

Sou um menino. Talvez grande, talvez pequeno; a presença dos meus anos não me muda a situação: estou para aprender a ser mau, na condição de criança preenchível, ou estou desaprendido de sê-lo, na condição de homem magoado. O que faz diferença, a saber, é que sou lúcido.
Mantenho o costume de caminhar desacompanhado de gentes. Gentes convencionam-se a não gostar do silêncio e do vento, e o vento com seu silêncio pós-explosivo é o único que me abre as penas. Ando pelo céu porque o mundo existe na relação do bicho humano com o mundo. O céu não pode ser conceituado e nem legislado por cores. Não compactuo com metáforas: a terra é simples.
Quando voo desatento, porém, algumas pedras dão por me atingir. Gosto de acreditar que tudo não passa de um terrível engano. Os bichinhos urbanus devem ser alérgicos a pedras. Os filhotes, principalmente. Devem acreditar que o azul do céu é como uma grande boca, que vai engoli-las para longe. Afinal, criaturas que existem sabem como é existir. Certo? Mas às vezes as pedras machucam. 
Num dia iluminado demais para que eu enxergasse com clareza sem óculos escuros, voava sorrateiro, meditando para o Sul. Sem aviso, uma pedra ríspida bateu em uma de minhas asas. Doeu como um coração que incha e, de tanto inchar, fica grande demais para quem o povoa. Nem mesmo sei se aquelas patinhas frágeis e magrelas poderiam tê-la lançado com tamanha veemência. Tonto, caí até o chão, procurando por resquícios de autocontrole. Restabeleci-me na grama, sentindo-me pesado e ridículo. Os riscos da vida são bonitos, mas podem nos levar a infortúnios de tal sorte. Minha escolha, porém, é entender que tudo é construção e possibilidade. Eu sei da alergia dos pobres bichinhos. Eles não têm culpa.

I won't make it to last friday.
I won't find my magic poem again. I won't climb up the tower again. I won't confirm my believes again.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

A verdade do colapso

Se antes os indivíduos estavam descobrindo que existiam no mundo, agora existem ao extremo, como células explosivas em expansão. Se antes descobriram que tinham escolhas, agora sentem a pressão de escolhas infinitas. Se antes perceberam que eram entidades pensantes, agora mentalizam o mundo num cérebro. Se antes perceberam uma bolha envolvendo o umbigo e zelaram por suas cores, agora se desesperam quando a bolha estoura e pateticamente fingem que ela ainda está ali. Se antes gritaram numa só voz e deixaram um eco ressoando para trás, agora gritam surdos e individualmente, cada um para um lado, e no ar ecoa um burburinho insistente.

(Algumas pessoas ignoram suas explosões, tentam controlá-la ou diminuí-la. Essas pessoas são as mesmas que confundem alegria com felicidade. Não existem manifestações exteriores. Só um indivíduo pode perder-se de sua própria apatia, implantar um coração num robô, aceitar a efemeridade sem espetar-se nela. A constância só existe naqueles que permitem que sua identidade grite, entre em conflito, perceba-se, exista, mova-se. Porque o silêncio vem depois da explosão. E vem a calma para enxergar, pegar no colo, fazer dormir - e não fazer desmaiar.)

segunda-feira, 16 de maio de 2011

A efetividade do colapso

Não sei até que ponto confio na esfera de possibilidades do Universo. Confio, agora, apenas nos meus lençóis, bonitos e arrumados sobre a cama. Meus lençóis estão indubitavelmente esperando por mim.
O que quer que seja que conecte dois seres neste mundo, é de uma instabilidade irrevogável que não há como medir. Estou imóvel contra a parede, percebendo minha projeção do futuro a carregar consigo só minhas responsabilidades sobre minha própria existência. A indissolução acompanhada da imprevisibilidade são características da pluralidade. A pluralidade diz respeito ao conjunto de indivíduos que interage entre si. Cada um desses indivíduos é considerado um ser humano por ser totalmente capaz de agir.
As outras pessoas são poços de ações, e eu não quero mais agir perto delas. A ação diz respeito a algo novo e completamente independente. Ações colocam monstros no mundo, monstros livres e errantes.
Meus lençóis estão arrumados sobre a cama. A vontade de desarrumá-los é grande. Agindo, muito provavelmente eles deixarão de estar arrumados sobre a cama. Não acho que consiga lidar com essa possibilidade. Só sou humana, agora, se não agir for, também, agir.
Não quero tocar as coisas. Nem mesmo o chão que sustenta meu corpo. Quero ser um corpo flutuante e sozinho no espaço e no tempo.

Não é justo que um século me condicione. Tamanha intensidade provocará a explosão de minhas veias. Sento-me ao chão para me contorcer com ele, arrepiar-me de desespero, sentir meus dentes se desprendendo da gengiva, para ver-me como qualquer outra coisa que não eu. Nada pode ser tão efêmero. Nada pode ser tão durável. Tchau.

I'm waiting for the day when you can love again

Antes era sempre a cabeça que se cansava das outras partes do corpo. Como todos sabemos - um peixinho me contou - a cabeça e o corpo são duas coisas completamente diferentes, dois organismos distintos que apenas se conectam por um gancho ou qualquer outro objeto apropriado para ligar instâncias. Isso depende, claro, da cabeça e do corpo dos quais tratamos. No caso dos meus, o que os prende é um fio de nylon. (Não há nada de realmente poético num fio de nylon). Minha cabeça nunca suportou bem as decisões absurdas do resto do meu corpo. As discussões eram de uma impraticidade irritante. Alguma coisa aconteceu, no entanto, que mudou o fluxo natural das coisas.
Meu corpo está absolutamente farto da minha cabeça. Está considerando com certa seriedade a possibilidade da separação definitiva. A cabeça está sufocante, pesada, tratando de toda a identidade dentro de si, e impedindo que dois sejam dois. Não existe diálogo. O corpo tenta mostrar-se insatisfeito, mas a cabeça torna mental qualquer tipo de manifesto sensitivo proposto pelo corpo. O corpo adoraria gritar. A cabeça mentaliza toda a situação dos dois, lidando com ela de forma ultra-racional, quase doentia. Um colapso está para acontecer.