sexta-feira, 16 de julho de 2010

Óbvio

A simpatia com o tempo é tão instável. Mais que inconstante, é separada, fragmentada, seletiva. Desejar velocidade supersônica acarreta na perda dos processos, das passagens, paisagens, viagens, dos caminhos, passos, pássaros, instantes, nuances, invisível, indivisível... Imperceptível. Pela dor da humanidade ao confrontá-los. É a fuga do plano, o pleroma de contos destruidores. Sou eu, é você, nós, sumindo. É nove de julho de dois mil e dez, são dez horas e trinta e um minutos. Somos perdedores do mundo... Why don't you kill us? And... We're already dead.

Não há mundo, não há lugar, não há gente, não há conforto. Não há carinho, não há palavra, não há verdade. Nem sonho, nem compaixão, nem importância, não há importância. Não há sinestesia, anestesia, calmaria. Não há altruísmo, não há vontade. Sem ser humano, sem sinapse, sem cor, sem movimento. Onirismo, metafísica, intimismo. Não há sugestão, revolução. Não há lirismo.

domingo, 4 de julho de 2010

Não estou bêbada, estou literária.

sábado, 3 de julho de 2010

Anti-Mundo

Caminhando a passos largos pela avenida mais movimentada da cidade, o menino ruivo subitamente deu-se conta dos transeuntes apressados que lhe esbarravam, atravessavam seu corpo magrelamente frágil. Encontros geram conexões sensíveis em seus múltiplos aspectos. E se ele se deparasse com alguém que, repentinamente e não mais do que pelo advento do encontrão, passasse a ser importante? Alguém que transformasse seu dia pela simples aparição? Contato visual. Um sorriso. Um jogo de cintura. Entendimento estranho do desconhecido. Um sapateado imperceptível - e quando assim, faz diferença? Compaixão. Pisão no pé. Reparando no decote. Pausas... Haveria o ruivoso menino de, ao acaso não tão acaso assim, encontrar sentimentos humanos? Não que ele os estivesse procurando, afinal.
Contatos existem do potencial misterioso do caos. Dopamina impulsiona adrenalina para o sistema nervoso periférico autônomo simpático. Arritmia, pupilas dilatadas, tremedeira, energia fortemente acumulada pela quantidade de cafeína em suas manhãs. Podia a ruivosidade do menino afetar-se pela moça de saia curta, pelo senhor de boina marrom, a senhora de bengala e dentadura, o robô mau, o fruteiro, o ladrão de bolsas desatentas? Se suas habilidade sinestésicas estivessem ligadas, coisa que de raro acontecia, certamente. Não há como escapar da condição de ser perceptivo, mas não há também como tirar do mérito do homem de tirar seus próprios méritos. Ou dons, como gritavam os cabelos gritantes do ruivo menino.
As pessoas da rua se atrapalham, se tropeçam, se mastigam, deixam os sentidos pelo cérebro que rege tantos mundos internos. A cabeça ruiva do menino pôs-se, então, a tatear. Quem? Não havia olhares nem neurotransmissores. Havia sono, apatia, morbidez aumentados de velocidade. Foi-se embora o menino com sua ruivez na decepção anti-interativa do mundo que se fazia fazer.