terça-feira, 28 de setembro de 2010

Sem

Registro fotográfico: a moça passava pela rua das luzes coloridas que ondulavam seu corpo esbelto.
Fonográfico: burburinhos de conversas se entrelaçando por todos os lados.
O sentimento: turgidez. A simultaneidade é perturbadora.

Com uma sensação invasiva sob domínio de seus sentidos, os olhos assustadores da moça correram até a ponte. O escuro, então, permitia que somente resquícios das cores intimidantes lhe iluminassem o caminho. Era muito tarde e, como de mau-costume, ela havia ignorado seus processos intuitivos e perdido neles ideias importantes. As mensagens estavam excessivamente nebulosas. A moça, após atirar-se para um mergulho definitivo no lago, emergiu dentre arrepios e poluição. Seu organismo implorava. Sentou-se embaixo de uma árvore sem folhas presa a um chão cambaleante e fez questão de lembrar-se como sentir solidão. Ali ficou. Para todo o sempre.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Exercício para livrar-se do espeto

Os cobertores parecem ser os melhores companheiros pro dia de hoje. Acostumada com o descostume das palavras, encaro as pautas do papel até quase sangrar pela caneta. Estou perdendo a capacidade de expressão como um homem que não sabe reconhecer rostos. Traduzir coisas não físicas em palpáveis sempre foi um trabalho sensível. É isso; tornei-me, de repente, insensível.
Não sou capaz de não poder ser todas as cores. Não quero ser aquela mulher com bafo de vinho e com cheiro de estrago. Eu gosto de salada. 
A infelicidade não é uma opção, é impossível arrancá-la. Nada me faria feliz. Gastrite. Quero que o som de suspiro costure a minha barriga com as lágrimas que vêm aqui de cima. E transformar minha alma num piano. Gostaria de me desligar das máquinas para poder rolar infinitamente nas gramas estonianas. Talvez seja o formigar do excesso de chocolate que tenha me deixado de cabeça pra baixo.
Senti um gato por debaixo das pernas e a segurança de sua transparência me acalmou o sonho. Pude mover um pouco meus dedos do pé. Quem sabe eu devesse levantar, algo me sussurra que já passa da meia noite. Levantei e o labirinto me estonteou. A luz alienígena está me esperando do outro lado da janela. 
Não sei se tudo isso tem um significado consciente. Acho que está na mistura do bolo que compõe aquelas coisas enterradas nas entranhas dos bichos esquisitos.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Insanidade minimalista

Antes de começar a contagem tomei fôlego e coragem para enfrentar os observadores: a arte não deve ser temida - não há como temer o inalienável.

Dentro de cada partícula subatômica de um único corpo pulsa um pequeno cérebro dotado de livre-arbítrio e vontades independentes. Cada pequeno cérebro de cada particulazinha toma decisões e traça objetivos. Inicia-se um princípio de implosão do sistema. As engrenagens hiperativas querem girar para todos os lados das cinco dimensões, até mesmo para os que só cabem nos rabiscos inconscientes do rápido movimento dos olhos.
O consenso deveria ser de domínio público. O eu inteiro não pode ser infinitas escolhas. A sociedade do intra-humano só sobrevive na ditadura das partículas repressoras. 
A sede e o sono não condizem entre si. Só existe razão na opressão de partículas que, jogadas num canto esquecido da parte direita inferior do umbigo, preparam uma revolução: tudo transborda sem mudanças prévias. Essas que, por sua vez, tomadas de selvageria, só fazem-se quando bem entendem de se fazer. E aí chegamos na impossibilidade de conciliação.
Schopenhauerianamente afirmo que não existe completa satisfação. São muitas partes de um individual organismo. Até que ponto vai...? 
Termina na democracia da maioria.

O que te faz mais mal do que bem?

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Hunting high and low

Com o coração na mão e o frescor da voz nostálgica dos meus nove anos, vem a leveza de uma intimidade transparente. Muito embora os acontecimentos pareçam bater à porta com a inconveniência do arranhão de um gato, o acaso é uma invenção da necessidade humana de explicar. É inacessível e petulante querer outra vida. A brancura abre espaço para expor e fazer lembrar a força das boas sensações.
A madrugada tem me acolhido como minha desconhecida irmã mais velha, abençoando todas aquelas horas certa vez malditas e tornando suportáveis as esquinas abarrotadas de escolhas. Reinventar e ter um cuidado sensível é corajoso e ensina. "É difícil ser quem a gente pensa que é...". Tento, mesmo com a falta de um otimismo que deixaria nebuloso todo esse excesso de realismo.
Pego um pedaço de ônix com meu pulso roxo e torço energeticamente para deserdar encantos com razão. Perder pessoas para resguardar a profundidade de complicações descomplicadas. Não quero desistir de escrever cartas.

"Epifania, é o nome disso. Esses insights". 

domingo, 12 de setembro de 2010

O olho

Maximizar o mundo mínimo é um ato de covardia. "Porque algo tão externo a nós nos influenciaria o pensamento?", dizem eles. Bando de narcisistas. A compreensão que lhes falta é que as influências não vêm de fora. Elas vêm de dentro. Tudo faz parte do mesmo. Nossa razão se prostra de escolhas... Mas de onde vem a consciência?
Presumir uma realidade esquizofrênica não é o caminho, mas estudar todas as realidades presumidas serve para alimentar o questionamento. Tudo que conhecemos parte de nossa própria e imprecisa observação. Não questionar é esquecer-se das importâncias.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Flightless bird

Tentando entender e tornar física uma melancolia com cor de fim de tarde mal iluminado ao som de vibrações desconhecidas, noto que não combino. É como não pertencer ao lado de olhos alguns e não dormir sinceramente em nenhuma cama. É querer ir e acabar de encontro com a própria fuga.
Salve-me com a sua companhia.