quarta-feira, 24 de março de 2010

Bainha de Mielina

Tudo que já senti veio de mim, minhas percepções são apenas minhas, e tais lembranças só podem me pertencer. Máquina.
Veio-me: o físico e o abstrato, certa vez cheios de vida, eram agora bucolismo, rituais incontáveis de mesmice - ou estou apenas repetindo repetindo repetindo o que li.
Nada é único pra sempre. A unicidade é relativa, contrariando meu próprio dogmatismo. Anuladas, a variável e sua dona estão presas à gaveta que as guarda. Não há tempo. O mundo pertence ao Angry Mob e não ao umbigo que lhe deu origem. As ausências assombram a noite, e o planejamento foge ao plano...
Frases de efeito não trarão de volta a suposta felicidade espontânea que diferenciava o ordinário azul do ordinário sem cor (não preto, mas branco, provido de cores indistinguíveis).
Borrões, ligeiramente reconhecidos por um tacodegentecegacujonomeéapenasmaisumadaquelaspalavrasinventadasparafacilitaradescriçãodeobjetosquaisquer, não confortam. Quero espancá-los. Sumam daqui, nômades indesejáveis. Sua falta de consistência leva à falta de segurança ao pisar na segura grama.
Ternos ambulantes, sem mentes à altura de seus cortes bem desenhados, não imponham a passagem obrigatória das horas. Cabe ao não-eterno x, por hora oculto em suspense, decidir seu próprio valor. Quero viver meu vinte e quatro de março de dois mil e dez, e todos os outros dias adiante deste, sem o sacrifício de nenhum.

terça-feira, 2 de março de 2010

Dúvida

Por motivo particular do Universo, deu-se a repetição simultânea ou prévia de fatos em outra dimensão. A visão era do passado sendo, naquele momento, gravado, e de rostos desconectados um do outro, porém importantes. O menino estava à frente, e à sua diagonal esquerda traseira, a menina, ambos sorrindo verdadeiramente para a câmera, que traçava um movimento vertical lento e contínuo. Tocava uma música íntima, profunda, que deixou de tocar não se sabe quando ao certo. A câmera, de seu movimento ininterrupto, atingiu o céu azul coberto por pipas de cores indefinidas contornadas pela luz do sol. Mostrando repentinamente o futuro ou o presente, a visão direcionou-se ao mar, com ou sem a filmadora. Três moças com as águas pelas cinturas davam-se as mãos de olhos fechados, concentradas na brisa que soprava do outro continente, ou possivelmente em algo mais intenso que isso. A moça do centro tinha longos cabelos ruivos. Um golfinho preocupado veio até elas e lhes alertou para saírem imediatamente dali. Mudando suas expressões faciais ao ouvirem o conselho do golfinho, correram para as areias e observaram tantos outros animais, cães, gatos, pássaros, todos negros, correrem para fora do mar, em desespero. Troca de realidades, ruptura.