Pegou papel e caneta apenas por costume, sem saber ao certo como organizá-los em seus dedos nervosos. Deveria escrever mais. Cinquenta e cinco boas produções e algumas epifanias simplesmente não eram o suficiente para suprir todos os seus pensamentos idiotas e a necessidade de pô-los para fora, nem que seja numa conversa íntima e audível consigo mesmo enquanto caminhava pelos parques da cidade. Se continuasse importunando aqueles que o amavam com conversas infinitas, opiniões pré-formadas e surdez passageira, acabaria sozinho ou mal querido. E isso, por mais que a ideia de transitar mundo afora a procura de sensações diferentes lhe parecesse o melhor jeito de aproveitar seu tempo em terra, era inadmissível para a saúde de seu coração fraco.
Com traços leves e sem forma definida, deu início a um parágrafo fulano. Mera introspecção psicológica. Ele era criação de Machado de Assis, um narrador não-confiável. Apesar de narrar com convicção, sabia que era descrido, pois nem ele mesmo acreditava em sua mente imaginativa. Seres humanos só fazem ideia de nada. Eles não sabem, e mesmo assim se auto-afirmam com a certeza de seu ego gigantesco. Que certeza? Estão todos errados e certos, verdade é um termo perigoso.
Parou. Veio, então, aquela sensação paradigmática de ser um grão de poeira cósmica e, simultaneamente, o Universo inteiro. Ele não podia simplesmente adaptar-se ao fato de que a realidade é vista através de lunetas individuais, e muito menos ao fato de que há total incerteza no fato ao qual este mesmo se dá. Ficou, é claro, confuso. Seria muito mais fácil ser um pintor abstrato, se encontrar com seus instintos animalescos. Pensar era muito complicado. Descansou a caneta, pesado. Deitou-se na cama, fechou os olhos e resolveu esquecer-se de sua consciência, só por alguns segundos. Não funcionou.
Com traços leves e sem forma definida, deu início a um parágrafo fulano. Mera introspecção psicológica. Ele era criação de Machado de Assis, um narrador não-confiável. Apesar de narrar com convicção, sabia que era descrido, pois nem ele mesmo acreditava em sua mente imaginativa. Seres humanos só fazem ideia de nada. Eles não sabem, e mesmo assim se auto-afirmam com a certeza de seu ego gigantesco. Que certeza? Estão todos errados e certos, verdade é um termo perigoso.
Parou. Veio, então, aquela sensação paradigmática de ser um grão de poeira cósmica e, simultaneamente, o Universo inteiro. Ele não podia simplesmente adaptar-se ao fato de que a realidade é vista através de lunetas individuais, e muito menos ao fato de que há total incerteza no fato ao qual este mesmo se dá. Ficou, é claro, confuso. Seria muito mais fácil ser um pintor abstrato, se encontrar com seus instintos animalescos. Pensar era muito complicado. Descansou a caneta, pesado. Deitou-se na cama, fechou os olhos e resolveu esquecer-se de sua consciência, só por alguns segundos. Não funcionou.