sábado, 31 de maio de 2008

Obit Register/ Registro de Óbito/ Registro de Óbito

Dear Humanity,

Today I cry.
You are commiting a slow and periodic suicide and can't realize that.
You are lost and can't be found.
And the only one who can save you
Is yourself.


Querida Humanidad,

Hoy Yo lloro.
Tu estás cometendo un suicidio lento y periódico e no percebe eso.
Perdeuse e no pode avistarse.
La única que pode le salvar és
Tu misma.


Querida Humanidade,

Hoje choro.
Você está cometendo um suicídio lento e periódico e não consegue perceber.
Perdeu-se e não consegue se encontrar.
E só quem pode te salvar é
Você mesma.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

O meio generalizado por robôs programados pelo sistema

Você acha que realmente gosta de chocolate? Realmente?
Acorda, dorme, anda, faz, fala, age. É, você faz tudo isso. Seus anos têm 365 dias, seus meses têm 30 dias (por vezes 31), seus dias têm 24 horas e suas horas 60 minutos cada, que por sua vez são compostos por 60 segundos e estes por milésimos, até não podermos mais contar. Você tem sábados, que é quando sai pra passear e esquecer da vida, falar besteiras, relaxar. Você tem domingos, que é quando dorme o dia inteiro, assiste televisão, passa o tempo com a família ou com quem quer que seja. E você tem todas as feiras, que é quando reclama do tempo que não passa, da vida que não se ajeita, da correria da rotina dos dias turbulentos e estressantes.
Você tem seus amigos. E estes são diferentes dos amigos do seu vizinho, que são diferentes dos amigos da sua irmã. Isso todo mundo sabe. As pessoas são diferentes, certo? Errado. As pessoas são todas iguais, generalizando. O meio as faz, o meio é a sociedade. Pensam sobre o que conversam, conversam sobre o que pensam, ou não pensam. Chegam a um senso comum de como as coisas devem funcionar, do certo e errado.
Sabe, todas as pessoas do mundo usam roupas, ninguém anda por aí sem elas. Todas as pessoas do mundo são consumistas, compram, amam conforto, acima de tudo e de todos. Todas as pessoas do mundo comem comida considerada de gente, ninguém come merda. De gente. O que é considerado de gente, por todos nós.
Será possível dizer que você realmente gosta daquilo que veste, come, ouve, faz, assiste, pratica? Você gosta de comer salada pra manter sua silhueta como a das atrizes de Hollywood? Você realmente gosta daquilo que faz mal pro seu corpo? Gosta de escutar palavras quaisquer grudadas umas nas outras com um toque de qualquer coisa projetada exclusivamente pra gerar lucro e beneficiar a alguns poucos medíocres? Gosta de ver alguém sendo humilhado, alguém fazendo sexo lhe parece engraçado ou vergonhoso, gosta de ver um palhaço levar um tombo? Gosta de fazer essa faculdade de medicina na qual seu pai te pôs? Ou... Será que alguém colocou isso na sua cabeça? Você não tem opinião própria, gosto próprio, vontade própria. Você foi projetado para ser quem é antes mesmo de nascer.
Era como se fosse uma regra, uma regrinha linda, que todos devem seguir para serem incluídos. Essa regrinha tem um nome. O Sistema.
Se você quiser comer grama como fazem as vacas, e apenas isso pro resto da vida, será tachado de louco. Louco é quem não obedece ao sistema, ou parte dele.
Existir é obedecer ao Sistema. É consequência de nascer. Você nasceu no mundo, o mundo é regido pelos seres humanos, que são regidos pelo Sistema. E não há como fugir.
Livres são os doentes, os loucos, os lúcidos, os pensadores, os filósofos, os pintores, desenhistas, escritores, verdadeiros atores, que sentem, percebem, vêem tudo de maneira mais clara. São as ovelhas negras no meio de infinitas ovelhas brancas.
Não há como fugir. Apenas ignorar, conviver, pra não viver isolado, sem nunca, nunca se esquecer do controle que ele exerce sobre nós. É preferível sofrer por ser um robô a ser um robô e não sofrer.

domingo, 18 de maio de 2008

A gravidade de um outro mundo

Vamos ser francos, tio. Eu não sou muito normal, n'é. Não precisa ficar me escondendo as coisas que eu já sei. Convenhamos, as outras pessoas não ficam falando as mesmas coisas que eu.
Eu lembro direitinho de um dia que eu tava lá em casa bem entediado, sem fazer nada, desse jeito mesmo, sabe. 'Tava tão frio e tão bom... Que eu resolvi fazer alguma coisa. Peguei o meu cobertor, lá no baú dos cobertores e saí pela janela do meu quarto, que dava no telhado da casa. Nossa casa é meio afastada da cidade, n'é, daí fica bem escurinho, quase não tem luz por perto. Eu deitei lá nas telhas e fiquei olhando as constelações. É nessa hora que passa um monte de coisas na cabeça da gente, n'é tio. Quer dizer, assim, sabe... As coisas têm que ter um motivo, às vezes. A vida, assim, não pode ser um nada nada a ver com nada. Sabe, deve ter alguma razão pra eu ter vindo parar aqui, bem aqui, 'tar bem aqui conversando com você. Sei lá, n'é, tem tanta gente que fica por aí falando besteira e pensando em nada sendo que tem tanta coisa pra a gente pensar.
Aí n'é, nessas horas eu também começo a pensar na minha vida, tio. Eu não queria viver sem saber das coisas, descobrir as coisas. Mas sei lá, será que EU, logo eu, no meio de um monte de gente, vou ser quem vai conseguir saber das coisas? Porque ninguém sabe da onde a gente veio, 'né. Ninguém. E nem porque e nem pra onde vai. E nem o que fazer. Não tem manual, n'é tio, não tem. Aí as pessoas ficam querendo ser nada e não entendem as outras pessoas e ficam chorando à toa por aí. Eu não gosto muito disso não.
Quando eu 'tava contando a milésima estrela, já, minha mãe colocou a cabeça na janela e me pôs pra dentro. Eu disse pra ela que tava vendo as estrelas e pensando na vida, n'é, no universo e no cosmo. Aí ela me falou assim que ia me levar no psicólogo porque essas coisas que eu faço é coisa de doido. Daí ela marcou uma consulta pra mim aqui com o senhor. Por isso que eu vim aqui hoje, tio. Agora me diz, assim, sem esconder, eu tenho direito de saber. Qual o tamanho da gravidade da minha doença?

domingo, 4 de maio de 2008

Nas profundezas de uma máquina

Ela não estava bem, não estava nada bem. Fez esforço para que seus músculos cansados girassem a chave da porta. Entrou cambaleando em seu apartamento, largando o salto alto em qualquer canto. Jogou a bolsa por cima do sofá na primeira oportunidade e sentou-se no chão, recostando-se na parede, aflita. Olhou pensativa por alguns momentos para seu jarro indiano. Era muito bonito, ela havia trazido da Índia em tempos remotos, onde a felicidade era facilmente encontrada, quando tudo era colorido e divertido. Sua realidade atual não era como no passado. As coisas andavam conturbadas, o tempo lhe era curto. Como se nada mais a satisfizesse, o sono sempre tomando o lugar das pequenas horas de lazer que costumava ter. Seus dias não passavam de filmes de ação em câmera lenta. O esforço era o maior motivo de sua sobrevivência. Não podia mais ler, ver filmes. Alguém acelerava o relógio durante as noites.
E era esforço não recompensado. Esforço cheio de injustiças, onde terceiros eram privilegiados. É uma lei irreparável. Sempre acontece, em todo canto, a toda hora, todo dia. É uma lei porca. Uma lei porca seguida por porcos. E não havia nada que pudesse ser feito, apenas arcar com as consequências dessa lei maligna. Além de regra, era corrente. Os terceiros privilegiados nunca, nem que quisessem, romperiam-na. O instinto do ser humano era mais forte, e o autobenefício gritava com gosto.
Seu pensamento voava longe, e a raiva apoderava-se de cada entranha de seu corpo. Era como se tudo que ela fizesse não a pertencesse mais. Era como se tudo fosse pouco, como se todos exigissem mais. Envolveu seu rosto com as mãos, a veia da testa se sobressaindo, as rugas de preocupação se mostrando. Todo o significado da vida havia desaparecido. Carpe Diem, dia após dia. Isso não existia mais. Passava diante de seus olhos. Ela era espectadora de sua própria vida. E tudo isso por causa da natureza do homem, por culpa da lei de murphy. Não era justo que outros transformassem seus dias num inferno terreno.
Chorou. Chorou por um bom tempo. Ficou uns quarenta minutos ali chorando. E então parou, finalmente, e tornou a encarar o vaso indiano. Via aquele vaso com outros olhos, depois desses quarenta minutos. O que antes era o desejo por um passado glorioso, era agora um conforto. Um conforto porque esse vaso lhe falava, agora. Ela havia sido feliz. Se certa vez foi, porque não seria novamente?
Levantou-se, pôs ambos os pés inteiramente no chão e olhou o céu estrelado pela varanda de seu apartamento. A luz das estrelas sugava seus olhos molhados. Caminhou lentamente até lá, com passos firmes e suaves. Pôs-se de pé, vendo a rua lá embaixo, tornando a erguer a cabeça e encarando as estrelas. A brisa bateu em seu rosto, ela fechou os olhos para sentir. Abriu os braços. Sentia como se pudesse voar. Sorriu. Era algo que as pessoas costumam chamar de "esperança" brotando nela novamente. A autoconfiança parecia estar entrando dentro dela, ali, naquele momento.
Então espreguiçou-se e voltou para dentro do seu apartamento, quente e aconchegante. Pegou uma água com açúcar na cozinha, ligou Elvis Presley em sua antiga vitrola e pôs-se a dançar, consigo mesma. Era hora de recomeçar. Ela veio pra este mundo. Não pode deixá-lo passar.