domingo, 18 de maio de 2008

A gravidade de um outro mundo

Vamos ser francos, tio. Eu não sou muito normal, n'é. Não precisa ficar me escondendo as coisas que eu já sei. Convenhamos, as outras pessoas não ficam falando as mesmas coisas que eu.
Eu lembro direitinho de um dia que eu tava lá em casa bem entediado, sem fazer nada, desse jeito mesmo, sabe. 'Tava tão frio e tão bom... Que eu resolvi fazer alguma coisa. Peguei o meu cobertor, lá no baú dos cobertores e saí pela janela do meu quarto, que dava no telhado da casa. Nossa casa é meio afastada da cidade, n'é, daí fica bem escurinho, quase não tem luz por perto. Eu deitei lá nas telhas e fiquei olhando as constelações. É nessa hora que passa um monte de coisas na cabeça da gente, n'é tio. Quer dizer, assim, sabe... As coisas têm que ter um motivo, às vezes. A vida, assim, não pode ser um nada nada a ver com nada. Sabe, deve ter alguma razão pra eu ter vindo parar aqui, bem aqui, 'tar bem aqui conversando com você. Sei lá, n'é, tem tanta gente que fica por aí falando besteira e pensando em nada sendo que tem tanta coisa pra a gente pensar.
Aí n'é, nessas horas eu também começo a pensar na minha vida, tio. Eu não queria viver sem saber das coisas, descobrir as coisas. Mas sei lá, será que EU, logo eu, no meio de um monte de gente, vou ser quem vai conseguir saber das coisas? Porque ninguém sabe da onde a gente veio, 'né. Ninguém. E nem porque e nem pra onde vai. E nem o que fazer. Não tem manual, n'é tio, não tem. Aí as pessoas ficam querendo ser nada e não entendem as outras pessoas e ficam chorando à toa por aí. Eu não gosto muito disso não.
Quando eu 'tava contando a milésima estrela, já, minha mãe colocou a cabeça na janela e me pôs pra dentro. Eu disse pra ela que tava vendo as estrelas e pensando na vida, n'é, no universo e no cosmo. Aí ela me falou assim que ia me levar no psicólogo porque essas coisas que eu faço é coisa de doido. Daí ela marcou uma consulta pra mim aqui com o senhor. Por isso que eu vim aqui hoje, tio. Agora me diz, assim, sem esconder, eu tenho direito de saber. Qual o tamanho da gravidade da minha doença?

2 comentários:

Marina disse...

Olha só, tio. Essas coisas que minha amiga escreve aqui... Eu gosto dessas coisas, sabe.Será que ela também tem problemas, tio?

Anônimo disse...

WOW

*_____*

mais um foda!