Bruna sempre havia sido uma sonhadora, daqueles tipos caóticos e bonitos, que vivem a olhar as estrelas de pernas pro ar. Quer dizer, não de pernas pro ar, "o vestido vai descer!", matracava seu pai, careca e resmungão. Calça, nem pensar, menina era feita pra usar vestido, pra casar e pra aprender os pontos de costura. Afinal, "a mulher nasceu do osso torto de Adão, e alguém que nasceu de um osso torto jamais pode se endireitar", já diziam os padres metidos a sabichões. Bruna cresceu ouvindo tais barbaridades e represálias, e as tão desejadas asas de voar ficavam sempre presas em sua imaginação encantada. Liberdade era algo muito distante da realidade do mundo, e não só do mundo de Bruna, mas do mundo mesmo, aquele que gira sem parar ou que para sem que notemos. Ainda bem que gira e que é discreto em suas fugas do dever de girar. Quem sabe o movimento rotatório da Terra ou a falta de percepção da falta dele dê uma chacoalhada nas idéias ordinárias e limitadas do pai de Bruna e faça com que elas escorram-lhe pelos ouvidos e permitam-lhe, quem sabe, que deixe de separar seres humanos de demais seres humanos. Caso contrário... A vida de Bruna se tornará efêmera, triste, tudo ficará ali do lado de fora, esperando pela mente brilhante do indivíduo único e criativo que nunca virá e que se perderá na eternidade.
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
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Um comentário:
Conheço uma Bruna assim (: Ela é linda.
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