terça-feira, 20 de outubro de 2009

Peça do fim da vida na Terra

Um dia haverá nada. Seres humanos gordinhos, engasgados de lixo prateadodouradoperoladobanhadoaseiláoque, cuspirão seu refluxo podre nas ninfas da floresta, que, afogadas, padecerão, matando consigo todo o ar de mistério e sintonia natural que preenchiam o planeta. Os gorduchos de sistema nervoso diferenciado fazem parte de algo muito maior que todos eles juntos (mesmo com tamanha obesidade e gorduras excessivas). Mas isso, por estarem ocupados mordendo suas coxinhas de carniça e com olhos brilhando refletidos nas vitrines, ignoraram. Foi um caso de suicídio coletivo relativamente acidental. E então houve nada.
A crosta que envolve energia pulsante tornou-se opaca sem seus fiapos coloridos que sempre flutuaram pela atmosfera e transitaram entre corpos vivos. Talvez alma alguma jamais retornasse ao teatro que cedeu palco a tal show de horrores e massacre de luzes.
Gordinhos magros metidos a sabidos diziam a gordinhos gordos que a Terra era diferente dos planetas X e Y porque nela havia água. Havia, é. X e Y também são teatros, distantes 20 quarteirões para longe. E se as peças neles representadas tiverem sido prévias da Peça do Fim da Vida na Terra? Essas bolotas voadoras imóveis do vácuo podem ter sido palcos de catarses inarráveis se todos os seus fiapos forem coloridos do mesmo modo que a coloração dos fiapos dos gordinhos humanos. Podem sim.
É sempre reconfortante pensar na transparência como uma realidade possível para mini-fiapos como eu. Não querer acreditar no fracasso do amor cósmico no palito de fósforo em expansão é iminente e espontâneo para que um dia meu filme tenha letrinhas subindo pela tela.

Inegável

Nunca fui controlado. Estímulos que me envolvam emocionalmente tocam a lua e o rio em mim. Pensar e agir não são opções viáveis, sou movido por reações espontâneas. Calmaria não é questão de escolha. Coisas maiores que minha consciência cercam meu umbigo e implodem, provocando alterações químicas por todo o organismo vivo. Sou muito dionisíaco. A cachoeira afoga a terra e a deixa instável. Quando almas que tocam a minha dependem da bioluminescência que emana de mim, eu decepciono. Perco as rédeas que nunca encontrei e fico frustrado por deixar o animal furioso correr para o abismo. Quero segurá-lo, não quero que ele morra, sei que vai morrer. Faço com que ele corra mais rápido, desfaleço. A culpa é toda da reação, agonia, reação. Espaçamento entre letras é insegurança e a inabilidade de conviver com ela. Gostaria de poder dormir.

Ser Humano.