terça-feira, 23 de junho de 2009

Caleidoscópio

Tudo é simultaneidade. Gaia é uma parte de tudo que, supostamente, existe, parte de todas as coisas fora de alcance. Dentro de um Universo infinito ou não, é uma bola de sinuca. Existem nela doses não comprimidas de surrealismo, uma grandeza imedível e mágica. Cada fragmento de alma, em seus estados profundos e mutantes, no fim fazem parte de uma mesma energia, é uma alma só. Todos os planos, lotados de especificidades inimagináveis, fazem parte. Maya existe, mas toda ela existe numa só coisa que carrega consigo lágrimas e risos, manifestações. Somos instrumento de manifestação do Universo e do que vai além dele, da coisa alguma ao ponto sem dimensão. É como uma poeira invisível, porém sensitível, que envolve a nós e tudo ao nosso redor, queira nos façamos sensitivos a ela ou não. É apenas parte, e, ao mesmo tempo, você e eu somos todas as galáxias, poeiras cósmicas e a flor rara de um lugar inexistente apenas para nossos olhos. É único e uno.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Piece

Once there was a boy who didn't exist, but had deep on his mind and heart all the dreams of trees and blue birds, growing and flying, and swimming and dieing. The cats crowled through his legs, and he didn't cry.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Diante das circunstâncias

A mistura congelante de gases de cinco da manhã fez com que eu me encolhesse por debaixo das cobertas, sem vontade alguma de deixá-las, embora uma voz próxima me anunciasse minhas obrigações. O sono inexistia, a sonolência não. Levantei atrás de uma meia para aquecer os pés.

Era tarde, parei frente aquela enorme janela, subi na beirada dela, estagnei. Nunca vi tantas cores juntas num só céu. Tonalidades e degradês brincavam com meus olhos, minhas piscadelas eram lentas e atordoadas. Os formatos caóticos das nuvens velhas e esfumaçadas davam forma à um desenho abstrato, borrado por um estojo inteiro de tintas. O tempo... O tempo ia passando sem se perder. Por fim, só coloquei uns sapatos e escovei os dentes.

A sanfona e a voz, espontâneas, a neblina que cobria a cidade inteira, o sol, o céu, o lago. Faltou-me o vestido, eu estava num sonho nunca antes sonhado. Submergi no céu, a branquidão era o tudo - ou o nada. A sensação curiosamente não amedrontante de estar próxima à queda de um penhasco infinito era constante, até o despertar. Acordei assim que o carro saiu do projeto de nuvens novas que tocam o solo.

Café com creme fresco do leite fortemente emulsionado, ligeiramente açucarado, de François; pessoas. Pequenas impressões, grandes conclusões.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Cheiro das flores da ilha

Os neurônios estão interligados, realizando rápidos e imperceptíveis, entretando essenciais movimentos sinápticos. Reações químicas, diminutas, dinâmicas. Energia sendo transportada por dentro, aparecendo por fora. Lapsos, consciência, impulsos nervosos num perigoso e frágil equilíbrio. O erronãonecessariamenteerro é facilmente difundido. Alguma coisa pode ir fatalmente mal, e essa coisa provavelmente dependerá de influências de outros tantos cérebros, cada qual com seus próprios sentidos abstratos e inconsciência indecifrável, ilocalizável e impenetrável.
Erros de alguns neurotransmissores e pontes neuroastênicas nomeados por petulantes possuintes de telencéfalos altamente desenvolvidos e polegares opositores podem ser emoldurados por nossos muitos eus-líricos. Alma refratada e refletida em múltiplas micropersonas. Interação de pós e partículas, cores, sons, pequenos movimentos contornados, num mesmo plano. Emissões, transmissões, correspondências, trocas, criações. Os estados de espírito imutáveis, excitados por outros, provocando as tais perigosas reações psicoquímicasfísicasbiológicasfilosóficas não-cientificamente comprovadas, mesmo que pareçam ser. Teoria do Caos.
Uma borboleta, que não é um ser humano, mas que, aos olhos de uma garota possuinte de um telencéfalo altamente desenvolvido e um polegar opositor, é amarela, sobrevoa a grama supostamente verde e provoca um movimento brusco no balanço do vestido supostamente azul de sua observadora. O som do carro dirigido pelo polegar opositor de um homem qualquer, que freia ao ver a garota azul, provoca sentimentos jamais compreendidos num equivocadamente considerado mais importante ser humano que os outros que transitavam por ali, e tais sentimentos o levam a pensar. Pensamentos e faíscas neurocósmicas o fazem realizar ações não previstas em buscas de prazeres mundanos extremamente individualistas que, num outro tempo, talvez próximo e talvez distante, dilacerarão ciclos de vida e correntes sinápticas de outros seres humanos, supostos companheiros de viagem.
Em busca de objetivos contraditórios e pouco pragmáticos, irreais e inventados, os paradoxalmente possuintes de telencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor utilizam tais artefatos naturais para alcançar conclusões não-nobres e, por vezes, estúpidas e para fazer algo a respeito destas, esquecendo-se com provável discernimento de que outros fazem o mesmo, e que isso não funciona.
Existem coisas que não possuidores de telencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor também contemplam, também sentem. Sentir é a palavra. Deveria haver uma espécie de combinação simétrica entre sinapses e estes, tão ou mais importantes. As vezes desistimos de olhar pro Sol por não podermos mais enxergar todas as nossas personagens astrais, e isso é fruto de outros que fazem o mesmo com outros, e por aí deduz-se a icógnita conseguinte.
Eu e meu imaginário somos provas vivas da caoticidade concreta e mutável, admiravelmente transmutável, da natureza de uma vida. Lady Murphy, não há ninguém utilizando seus telencéfalos altamente desenvolvidos e polegares opositores para realizar menções sinápticas e combiná-las com amor, e salvar o mundo.