Fui tomada, de repente, por um pequeno fluxo de consciência. Sempre duvidei das palavras, sempre senti falta delas como se, na verdade, nunca estivessem comigo. Eu estava andando por um longo caminho aparentemente retilíneo, cujo fim ou ausência dele eu não podia perceber. Meu corpo físico movia-se enrijecido pelo espaço, aquele lugar onde a Terra deitava, adormecida, brincando com o tempo sem se importar. Estava frio, era a falta de você. A Lua, pregada ao céu, límpida, redonda, fosca, com uma magnitude sombria e mística, transparecia uma incompetência inexplicável. As cores misturavam-se atrás dela, tornando-se uma coisa só, maleável, de uma profundidade incontestável. Oposto a ela, numa precisão assustadora, o Sol brilhava de um brilho cego, superior, infinito. A luz da manhã nunca me dá fotofobia, a sensação de uma coisa que cresce, não só no céu, mas dentro de mim, é confortante. Eu, por segundos esgotáveis, estava no centro do Universo, era ele que estava ao meu redor, estava inserida nele egocentricamente, como se minha alma e tudo que a acompanha fosse maior. Talvez seja. Nós estávamos virados de cabeça para cima. A Terra, daquele pequeno ponto sem dimensão, estava conectada a duas forças grandes demais para ela, tão grandes quanto o que prende nossos pés ao chão. A fluidez desequilibraria a situação, como é de se esperar. Viramos, e então meu caminho se inclinou e me deparei com um penhasco pelo qual deveria despencar. Continuei, sentindo algo não me deixar sofrer uma queda brusca e mortal. A Lua é transformista. Estou cercada de consciências muito mais deslumbráveis do que pequenos fios prateados que atravessam pedaços sólidos de mim, no início e no fim do dia.
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
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Um comentário:
Não precisei ler duas vezes (:
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