Como que num dia comum, estava eu trotando pela calçada rachada da Avenida. Obliquamente notei uma borboleta atravessando a rua e o carro que, de súbito, arrancou-lhe fora as asas que lhe mantinham viva. O sopro bruto da pressão do ar despedaçou o corpo da frágil criatura, que veio ao chão, desfalecida. Era cedo, eu atravessava apressada engolindo meu café, sem jeito. Meus cabelos sobre os olhos certificavam que aquela era a faixa de pedestres. Todos os cálculos da economia regional me distraíam do mundo que girava. Setenta e sete, setenta e nove, oitenta e um... Foi o reflexo do movimento brusco involuntário do meu corpo gerado pelo barulho ensurdecedor e inesperado. Olhei e vi um monstro, e então vi o Sol caindo em mim, com toda sua desproporcional massa estelar e fogo azul anil. Fui desintegrada, voei. Resolvi, então, movido pela comoção gerada, me aproximar da morte. Digo, da morta. Seus cabelos vermelho maçã contrastavam com o cinza cimento da rua. Aquelas pernas bronzeadas que há pouco torneavam seus músculos... Ninguém... E ainda assim, alguém. Eu. O rapaz da banca de jornais era a moça borbolefeita.
quinta-feira, 17 de junho de 2010
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