Ontem parti meu crânio ao meio e me vieram com sal e vinagre tentando estancar o sangue não-coagulado. Ando por aí com a cabeça aberta, exposta, ventilando um cérebro empoeirado. Coisas voam para fora na trajetória e muita besteira acaba caindo para dentro. O sistema processa, digere, manda pela aorta, vira ao contrário e cospe boca afora, na cara de um qualquer. Tão de repente o mundo se torna nada palpável...
Todas as mãos coloridas que me seguravam para que a falta de gravidade não me levasse resolveram soltar-me. Flutuo pelo espaço, só, em meio a corpos estelares e vidas desconhecidas... Os olhos das figuras humanas em quadros e esculturas de gelo me seguem, sempre observado de longe e transmitindo um medo terrivelmente seguro, imutável. A ausência de paredes pesa como se as próprias esmagassem a arte de existir. "Não sei se estou sonhando ou se eu mesmo sou o sonho". Já não posso mais cronificar o Universo que vai sendo deixado para trás na inércia pseudônima de mim.
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