sexta-feira, 11 de março de 2011

Cafeína: amor e ódio; dos efeitos e outras considerações

Meu corpo está num estado mórbido de exaustão, tanto que alcançar o costumeiro caderno vermelho e iniciar este quase que me foi um sacrifício. Cada palavra me dói num lugar diferente. Porque não dormir? Pense que horas são. Estou doente, vê. Daquelas gripezinhas bobérrimas, mas avassaladoras, que te fazem sentir o incômodo de sua existência física num mundo nada palpável. Ok, fui acordada a esta hora da madrugada com uma xícara bem servida de café quente. Mãe alegando "você não pode tomar xarope - com gosto de vinho doce e barato - se não colocar algo no estômago". Aham, sei. Qual o quê. Venho fazendo isso com o antiinflamatório para garganta e até hoje não morri. Era um antialérgico, ainda por cima, eu poderia estar dormindo perfeitamente dopada. Mas não. Estou analisando causas, efeitos, gostos e a maldita da dialética da linguística. Pausa para uma tosse e para perceber que a tinta da caneta está quase no fim. Pré-preguiça de buscar uma nova... Tenho certeza que o conteúdo deste (primeira palavra riscada, sinal de motor pifando) poderia estar sendo discutido via messenger com meu amigo abstrato de João Pessoa. O que me lembra que andei sonhando a noite inteira com redes sociais e pessoas se agredindo com bastões coloridos. Isso me incomodou tanto que tive que me levantar para ir ao banheiro e fazer uma nova bolinha de papel para distrair meu gato, Elvis Presley. Não conheço pessoalmente esse querido amigo intangível (primeira palavra acrescentada a esmo no rodapé, sinal de perda total). Comunicamo-nos unicamente via mundo virtual irreal, porque longe é um lugar que verdadeiramente não existe. A linguística me diz que a fala é totalmente diferente da escrita. São as variações da natureza humana versus o modelo fixo da perfeição. Lá no meu subconsciente - não digo inconsciente, afinal estou justamente conscientemente tomando nota dele - isso me faz morrer de amores. Falar, pra mim, é um sacrilégio. Quase morro. As palavras saem tão tortas que quase incoerentes, portanto a linda da linguística me faz uma defesa genuína. Quando eu e meu amigo irrealmente real nos esbarrarmos, o universo implodirá em uma sopa de letrinhas, a minha eloquência cairá por terra e a verdade da minha "meiguice" idiotária virá à tona. E então eu perderei um amigo só porque meu café estava ácido demais. Venho bebendo tal maravilhoso veneno negro desde os quatro anos de vivência, daí as pessoas supõem que podem me entupir dele. "Desce aqui, vamos tomar um café". É quase um complô. E aqui, pra mim, é o basta desse monólogo diarístico avulso entre meus inúmeros fluxos de pensamento. Quando chega na teoria da conspiração é definitivamente hora de parar. Espirro. Viu, pra quê ter medo das palavras? (Vi, no fim, que esse texto não ficou do tamanho quanto me pareceu. São distorções imaginárias de madrugadas matutínicas, creio. Ótimo, passei quase uma hora num fluxo de consciência constante e agora estou com taquicardia, um texto chocho e moralmente desequilibrada).

Da série "Monólogos Diarísticos e Outras Aparições Raras".

3 comentários:

Danna Lua disse...

te imaginei falando tudo isso, e me deu vontade de te abraçar

Rômulo Pacheco disse...

Belíssimo!

Anônimo disse...

Olá,

Somos do Café com Chewbacca e Carcaju e estamos dando uma passada para conferir também seu blog, e agradecer por nos seguir e acompanhar o Café com C&C!
Muito legal as coisas encontradas por aqui.
Continue conferindo o blog, logo logo haverão muitas novidades!

Abraços,

Café com C&C
http://cafecomcec.wordpress.com/