sábado, 26 de março de 2011

We are drifting away

Algumas coisas acontecem em dimensões muito profundas da existência para que sejam transformadas em histórias. E aqui registro essa máxima como um contrato assinado pela literatura para me permitir delírios. Meu estilo inconcreto está, então, permitido, sem medo e sem bloqueios. Não estou para desafios, estou para desencontros.

Invasão: quantidade excessiva de informações de ordem sensorial a serem processadas pelo cansaço de um cérebro tumultuado. A hostilidade do mundo pretendia provar-se, tanto psicológica quanto fisicamente. Cutucava-me com força, sem espaço, como que para obrigar uma muito necessitada paz.
Atingir um devir, um transitar por. Não estar nas coisas, mas entre elas. Acalmar o pensar no pensamento. Sentir que as palavras brotam pelo meio junto do vento e sua capacidade relativizadora do tempo.
As palavras são, agora, como a grama, o caminho. É a anti-arborização deleuziana que transmuta meus símbolos, converge literatura e filosofia. Trata-se da percepção da naturalidade do filtro do leitor que cata símbolos em pés de palavras. Há tanto nesse ex-tumulto quanto há nas pessoas.
Aprendi a não evoluir, mas involuir na veracidade da transcendência do amor e da simplicidade. Aprendi que o nome das coisas é vazio, e Manoel de Barros me ensinou a enchê-los de abandonos, cultivá-los em ruínas, cuidar da transparência dos olhinhos semicerrados de uma menina que vê e desvê como as texturas e nuances da natureza. Como as cores que se espalham sem vergonha nos vazios dos nomes das coisas. Acontece, a partir daí, uma humanização da língua através da rostidade construída de buracos negros, muros brancos e desconstruções. Sim, tudo me vem torto, desnudo, cru e repetitivo. Não tem régua e não tem história, porque a história só é composta por fatos que descredibilizam aqueles realizados por dentro da minha fechadura.


3 comentários:

Danna Lua disse...

Chegar nesse estado profundo de (des)entendimento das coisas, é como perceber que esse rebuliço está no canto do olho de um lagarto, e que amor é o canto azul de um pássaro em uma ruína.
É saber que esse ímã de loucura atrai pedaços de azulejos e cacarecos de espelho. e então as suas palavras não estão mais vazias. e o escuro encosta em você para ter vagalumes (essa última parte, Manoel quem me contou)
<3

Juliana Amado disse...

A vida, os sentimentos, as coisas, podem ser uma rúina, podem estar desmoronando, mas não acredito em espaços vazios.Há sempre alguma coisa, mesmo que não a vejamos, e a nossa tarefa é procurar esse algo e descobrir o que ele é.
E acredito que tudo pode virar uma história. Mesmo que seja inacessível.

Danna Lua disse...

As ruínas, na verdade, são monumentos onde os lírios crescem livres