quarta-feira, 1 de junho de 2011

Time and Space

O cobrador do ônibus era um homem mais velho, calculei seus cinquenta e cinco anos. Carregava consigo olhos tediosos e pacíficos que procuravam se distrair pelo mundo. Olhou para mim algumas vezes, enquanto eu me anestesiava com os pássaros que dançavam Johnny Flynn nos meus ouvidos. O Sol estava por cima deles, lhes fornecendo energia de noites bem dormidas. Eu estava tonta de respirar e contrair meu corpo. A tontura me relaxou num sono delicado. O cobrador do ônibus me viu.

(As coisas estão sincronizadas. Não estou sentada na posição correta e um tufo do pêlo branco de Elvis Presley voou por cima das minhas retinas).

Corri para alcançar o tempo e resolvi que o dia não pode envergonhar-se de ser, porque o passado é a memória do presente e o futuro é só um holograma. Você alega: meu umbigo tem licença para borbulhar! O motorista passou por você e não parou, eu sei... Somos pequenos demais, mas entenda. Eu não seria caso não fosse eu. Você sentiu vergonha, vi sua cabeça abaixando, vi seus olhos inquietos na possibilidade dos observadores. Lembrei-me que minha mãe volta tarde, e que a solidão não é pontiaguda, não é cortante, ela arranha só pra acordar. Não precisa fingir que você sentiu raiva, porque "o sentimento é a excelência de si". Um motorista perfurador de almas é também motivador de crises existenciais e comprova a teoria da pluralidade do mundo. Todo mundo é igual no constrangimento de existir.

É bonito perceber que eu durmo na posição de descansar e descanso na posição de ter preguiça. Ajuda a entender que sou torta, e que ser assim às vezes dói - sempre vai doer. Doeu quando apertei minha coluna contra a dura realidade, mas "cada um é um si". O silêncio pode ser compartilhado com o próprio silêncio. Trocar com alguéns é um incômodo quando nunca controlamos vontades. É difícil ser um estorvo na arte de compartilhar. Abrace a fragilidade, oras. Todo mundo é igual no medo que tem de todo mundo.

Um comentário:

Anônimo disse...

suas ideias dançam muito bem na tua coreografia... ou você dança muito bem a coreografia das tuas ideias. é lindo, digo.