Tomei nota: "Jamais esquecer-se da importância". Colei o post-it na parede, sentei-me numa cadeira não tão confortável e reli as palavras cuidadosamente escritas pelo lado organizado do meu cérebro. Fui ao banheiro, muito embora soubesse que nem sempre devo me livrar de meus incômodos. Voltei com o caderno vermelho em mãos, abri numa folha amarelada avulsa, escrevi com caneta tinteiro.
"Não devo ter medo das substâncias amorfas que me fazem esquecer o trabalho. Não posso me entregar ao ceticismo de tal forma que especulações terrivelmente potenciais se afugentem na inibição. Tudo deve ser questionado, sempre somar empirismo à carga cósmica do desconhecido. Não fugir de tristezas profundas, melancolias reveladoras, rios furiosos. Sofrer efeitos, me agarrar ao tronco mais próximo. Não temer transformações, não me entregar à felicidade da calmaria. Sorrir incondicionalmente, de acordo com as condições. Aprender a linguagem do inconsciente não para decifrá-la, mas para me juntar a ela. Enxergar mini-fiapos com a pele, sem tateá-los. Permitir a vibração do terceiro olho. Não desistir de pintar-me, explorar as cores que me fazem tela. A redundância é recurso da memória."
Após alguns segundos de olhos desfocados, larguei o caderno aberto em algum lugar imaterial e fui com a certeza de que às vezes preciso ser um ordinário repetitivo existencialista.
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