quarta-feira, 27 de abril de 2011

Título pós-textual: consolando-me nas possibilidades de devir

Jeff Buckley me arrancou lágrimas desvairadas enquanto eu lia forçosamente um texto sobre literatura barroca. Estava tentando - e continuo nesta ilusão - ignorar umas bolhas por dentro da minha pele que ardem e cutucam-me os nervos. Só sei falar de devaneios mentais, análises camonianas, filosofia metafísica, existencialismo renascentista e fazer alguns barulhinhos fonéticos intercalando toda a falação.
Compartilho da teoria de que nossa geração é inteiramente constituída por pequenas personas explosivas. Não somos acomodados - como todos adoram acusar-se-, apenas participamos de uma revolução silenciosa, já que, socialmente, estamos vivendo um tempo de tudos. Falei tanto e continuei falando (mesmo que por dentro de mim) que tive dor de cabeça antes mesmo de ouvir o barulho da construção que se segue numa parte do meu prédio. Os processos mentais estão me estonteando e, pouco a pouco, me direcionando para o contrário de explodir. Essa explosão das pequenas personas tem sido, para a pequena persona de meu cérebro inacabado, tão imprescindível que não encontra buraco por qual sair e acaba provocando uma espécie de implosão forjada. Poderia presumir que as bolhas incômodas vêm daí. Presumiria qualquer coisa se essa quantidade exacerbada de inferências não estivesse podando-me a existência. Continuo tendo certeza - com influências descarteanas - da importância de existir. Para pensar devo, antes, existir.
O próprio Renato Russo, com toda sua perdição em si mesmo, não conseguiu entender como todos podiam continuar dormindo diante da única coisa que era no mundo: o amor. É ele a única coisa que alimenta a quintessência humana. Tenho lutado contra o vento e contra a falta de canetas para mantê-lo vivo nas minhas percepções espirituais. Por todas as coisas que respiram e em seu estado sublime de altruísmo, estou falhando. Atualmente - além do Elvis e da grama - amo apenas a meu próprio pensamento. Sinto ciúmes do que não consigo amar totalmente por duvidar do caráter do próprio amor. Não confio que as coisas sejam imutáveis, porque tudo flui. O amor não é alguém que nunca vai me abandonar, mas a sombra dele sempre beliscará meus olhos para lembrar-me de que fui idiota ao deixá-lo perder-se de mim. Não confio na sua permanência, ele foi e não volta. Só reside no meu próprio ego mental, nas reflexões caóticas e perigosas do meu, então, falso coração. Vejo o absurdo desse egoísmo ridículo. Queria apegar-me a mim, apeguei-me tanto que meu suado self respect voltou-se contra a bruxa estima e enfeitiçou-a para que ficasse do tamanho que lhe convém a alma.
Expus o cenário do meu paradoxo. Não posso ser, porque só amo a meus pensamentos, que não são vivos para respirar. Como amar algo que, pela minha falta de existência, não existe também? Amo nada, portanto. Iludo-me na condição de ser amante do mundo. Jeff Buckley estava certo esse tempo todo, assim como minhas fiéis bolhas alérgicas.

3 comentários:

Izabella Verônica disse...

amei francinha! mesmo!

Lucas disse...

Achei lindo teu blog. Identifiquei-me com sua impecável colocação pronominal que por vezes permito-me exercitar.

Lucas disse...

Se bem que a minha nem é impecável, poxa.